Oscar,
o superestar
* Por Edmundo
Luiz Pacheco
- Papai quero sorvete! Papai quero
sorvete! – teria gritado o filho mais novo de Oscar, com seus olhinhos azuis
brilhando, ao passar na frente da sorveteria. Isto, se Oscar tivesse filhos.
- Bom dia amigo! Prazer em vê-lo! Que
saudade!! – teria saudado o melhor amigo de Oscar, ao reencontrá-lo. Claro, se
Oscar tivesse amigos.
- Querido, acabou o café. – teria dito
a esposa de Oscar, acordando-o pela manhã. Se Oscar tivesse esposa. Se ao menos
dormisse.
- Vizinho, me empresa o martelo? – teria
pedido, sorridente, o vizinho da casa amarela, no lado esquerdo à de Oscar. Caso
Oscar tivesse martelo, ou vizinho...Ao menos casa.
- Atrasado de novo, Oscar? Qual a
desculpa de hoje? O carro quebrou? – teria ironizado o patrão de Oscar. Certamente,
se Oscar tivesse emprego, patrão, carro.
- Seu molar tem uma cárie. Você precisa
comer menos doce. – teria alertado o dentista de Oscar, fuçando-lhe boca
adentro à cata de dinheiro. Se Oscar tivesse dentes. Se ao menos comesse...
-Seus documentos, por favor! – teria
insistido o policial, ao encontrar Oscar vagueando pelas ruas, tarde da noite. Óbvio,
se Oscar tivesse documentos. Se vagueasse... Se ao menos fosse visível.
-Pula! Pula! Pula! – teria cantado, em
coro, a sádica multidão, se pudesse ver Oscar de pé, no parapeito do último
andar do prédio mais alto da cidade... Oscar ali, olhando para baixo,
indeciso...
Indeciso? Isto Oscar nunca foi! -Pelo
amor de Deus, meu filho, não pula. Não acabe com sua existência assim... – teria
apelado o padre, esticando a mão para Oscar que escorregava do parapeito. Claro,
se Deus o amasse...
Se Oscar ao menos existisse...
*Jornalista,
ex-editor-chefe da TV Guairaca (afiliada Globo) Guarapuava, PR
Forte e impactante a não existência de Oscar. Eu choraria por ele, claro, se tivesse lágrimas.
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