Jardim de Imprevistos
* Por Fernando Mariz Masagão
Algumas coisas precisavam ser ditas
antes que pudéssemos nascer. Algo para deixar a peleja um pouco mais em pé de
igualdade. Deveria haver um anjo paternal e beijoqueiro que, carregando
Schopenhauer sob suas asas, pousasse as mãos em nosso ombro e nos dissesse:
“Olha, a vida não é bolinho. É cheio de filho da puta lá embaixo. Se você não
vencer a vida, ela te vencerá... Você tem certeza?” E, sapecando dois ósculos
celestiais, rematasse: “Então, te cuida. Boa viagem”.
Nascer deveria ser facultativo. As
cousas certamente sairiam melhores por aqui. E muito choro seria poupado nas
maternidades. Isso, claro, se votarmos crédito ao ocidente. De minha parte só
posso crer num Deus que escute Rock and Roll, encha a cara e se pergunte: “Onde
foi que eu errei?” E eu acredito, mesmo que ainda não possa rezar ou assobiar
tranqüilo nas tardes cálidas de sol. Mesmo que Schopenhauer seja de uma
covardia infantil.
Quisera eu ter o que dizer às minhas
veiazinhas oculares neste momento vaso-constritor. Mas acho que elas suspeitam
que eu não canto como Elvis, nem posso amar como o Vinícius de Moraes.
Amanhã os vizinhos lerão no jornal
zombarias de toda sorte. Amanhã muitas vozes não se furtarão em desafinar. E o
mundo continuará a ranger sua dor de estômago crônica e as flores mais bonitas
continuarão a brotar neste jardim de imprevistos.
E ainda assim Rogério Ceni seguirá como
o maior dos goleiros na história.
*Fernando
Mariz Masagão é músico, dramaturgo, poeta e colaborador de publicações online
sobre arte, com crônicas e críticas musicais. Guitarrista e vocalista de bandas
de rock'n'roll, tem formação clássica vigorosa, em cursos de
regência sinfônica, apreciação musical e instrumentação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário