Ganho
e perda de tempo
* Por Pedro J. Bondaczuk
O fracasso, em qualquer dos
nossos empreendimentos – quer no amor, quer numa amizade, quer nos estudos, no
trabalho, nos esportes etc. – pode ser classificado como perda de tempo?
Entendo que não! Muitos, no entanto, interpretam como sim. É questão de ponto
de vista.
Ponderemos. Por mais que um
determinado insucesso tenha nos machucado, doído e causado frustrações, ele
sempre deixa algum saldo positivo. Compete-nos procurá-lo atentamente. Ou seja,
temos que ser sábios o suficiente para extrair lições dos nossos erros e
fraquezas para que, com sua devida e competente correção, possamos chegar ao
sucesso: sólido, consistente e duradouro.
Perda de tempo, na minha visão, é
sequer tentarmos conquistar um amor, por exemplo, ou consolidarmos uma amizade,
ou fazermos um curso para o qual somos potencialmente aptos, ou buscarmos uma
promoção profissional, ou vencermos uma competição esportiva etc.etc.etc., tudo
por medo de fracassar. Esse temor em si já será um fracasso. Com a agravante de
não termos lição alguma (mesmo que dolorosa ou vexatória) a extrair.
O filósofo Francis Bacon faz a
seguinte e lúcida constatação a respeito: “Não há comparação entre o que se
perde por fracassar e o que se perde por não tentar”. A segunda dessas perdas é
infinitamente maior. Salomão já dizia, na sua velhice, depois de conhecer o
máximo do sucesso, ou seja, riquezas, fama, poder, glória etc., que tudo
debaixo do sol tem seu devido tempo: o de nascer e o de morrer; o de amar e o
de detestar; o de agir e o de descansar e vai por aí afora.
É uma mensagem direta, simples e
até óbvia à qual, no entanto, raramente atentamos devidamente. Fracassamos,
muitas vezes, em nossos empreendimentos, por querermos colher os frutos
prematuramente, quando estes ainda estão verdes e amarram a boca, tendo um
sabor amargo ou ácido. Deixássemos amadurecê-los e nos deliciaríamos com sua
doçura.
Devemos ter em mente o tempo
certo para realizar o que pretendemos (e saber fazê-lo, claro). Isso não
significa adiar indefinidamente nossas realizações. Através da intuição,
sabemos o momento certo de agir. O que ocorre é que raramente lhe damos
ouvidos.
Há um outro aspecto a ponderar. A
mera preocupação com o futuro, sem a conseqüente e posterior ação, no sentido
de construí-lo concretamente, achando que as coisas irão se materializar por si
sós, à nossa revelia, como que num passe de mágica, é uma estupidez sem
tamanho. É assim, todavia, que a maioria age. E os resultados são,
invariavelmente, os previsíveis: fracasso!
Se quisermos que nossos projetos
se concretizem (e isso se os tivermos) temos que agir nesse sentido. Precisamos
estudar, trabalhar e nos preparar com método, organização e aplicação, dia a
dia, anos a fio, sem nos deixarmos abater pelo desânimo e nem nos submetermos à
sedução da pressa.
Ainda assim, não há a menor
certeza de sucesso (nunca há e para ninguém). Reitero o que já escrevi inúmeras
vezes, mas que é sempre oportuno relembrar: não temos sequer certeza de que
amanheceremos vivos amanhã, quanto mais sobre os resultados dos nossos esforços
num remoto e nebuloso futuro.
Todavia, se nos prepararmos
adequadamente, se aprendermos todo o conhecimento a que tivermos acesso, se
realmente quisermos, agindo para concretizar esse querer, nossas possibilidades
de sucesso crescerão exponencialmente. Ele será, pelo menos, mesmo que
remotamente, viável. Afinal, como constatou Francis Bacon, “o futuro do homem
está oculto em seu saber”. E, tenha certeza, pelo menos em termos potenciais,
de fato, está.
Mas não podemos nos fiar, apenas,
na inteligência para tentarmos concretizar nossos sonhos e projetos. Esta é
importante, não há dúvidas, mas não sozinha. Solitária, ela é inerme e não nos
leva a lugar algum. Precisa do auxílio de uma série de sentimentos e virtudes
que a impulsionem e a façam efetiva.
Por exemplo, um dos fatores
imprescindíveis é a fé em nossas possibilidades. Se iniciarmos algum
empreendimento, não importa qual, sem acreditarmos no seu sucesso, é melhor que
sequer venhamos a sobrecarregar nossos neurônios e despender energias. Ele
estará, liminarmente, fadado ao fracasso.
Outra emoção valiosa é a
esperança. Mas ela, igualmente, não pode vir desacompanhada. Deve ser
respaldada e complementada por ações que a viabilizem. Se nada esperarmos da
vida, senão seu complemento (a morte), já estaremos espiritualmente mortos,
mesmo que isso não nos seja aparente.
O escritor francês, Roger Gard,
escreveu: “A inteligência só conduz à inação. É a fé que dá ao homem o ímpeto
indispensável para agir e o entendimento para perseverar”. Notem que o ilustre
pensador não defendeu a burrice como forma de obter o sucesso. Longe disso!
Aliás, nem seria maluco de
recomendar uma coisa estapafúrdia dessas. Apenas ressaltou que a inteligência,
sem o respaldo de outras virtudes, é impotente para promover, sozinha, o êxito
que tanto almejamos. Portanto, amigo leitor, planeje, estude, se prepare, lute
e tente.
Aprenda a se levantar, sempre que
cair (e esteja certo de que cairá inúmeras vezes), e a continuar a jornada.
Agindo assim, mesmo que não consiga o que tanto quer, terá, pelo menos, logrado
um feito considerável: terá construído uma vida exemplar, digna de admiração e
respeito. E isso é ganhar tempo, e com sobras, por sinal!
* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio
Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor
do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico
de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos
livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos),
além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O
Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com.
Twitter:@bondaczuk
Estou umas etapas atras. Preciso ter sonhos, para depois tentar concretizá-los.
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