Sobre defeitos e
admissões
A perfeição, seja em
que aspecto for, é interdita a nós, efêmeros e falíveis humanos. Trata-se de
constatação tão óbvia que cairia a caráter na boca daquele personagem de Eça de
Queiroz, do romance “O Primo Basílio” o Conselheiro Acácio, useiro e vezeiro em
recorrer a obviedades. Além de nossas inúmeras deficiências (congênitas ou
adquiridas, não importa) temos uma que se destaca entre as demais e que é o
suprassumo da estupidez: a da arrogância. Julgamo-nos, potencialmente, oniscientes,
ou seja, achamos que podemos aprender tudo o que existir para ser aprendido,
mas nos esquecemos, amiúde, da nossa mortalidade. Mesmo que, da boca para fora,
falemos da morte e que saibamos que ninguém, absolutamente ninguém, escapa
dela, lá no fundo da nossa mente nos recusamos a acreditar que este também é
nosso inexorável destino, que mais cedo ou mais tarde isso irá nos atingir, e,
pior, subitamente, sem nenhum aviso prévio.
Defeitos todos nós
temos, das mais diversas naturezas e intensidades. A perfeição, reitero, – condição desejável e que deva ser buscada, o
tempo todo, sem cessar, enquanto vivermos, por sempre nos tornar melhores
(embora ainda imperfeitos) – é objetivo inalcançável para qualquer pessoa.
Nossas deficiências são as mais diversas: físicas, mentais, morais,
intelectuais e vai por aí afora.
Claro que o primeiro
passo para pelo menos se tentar corrigir os defeitos corrigíveis é a admissão
de que os temos. Alguns não têm correção. Estão, neste caso, principalmente os
de caráter orgânico. Um pé torto, por exemplo, ou um nariz adunco, ou um
intestino preguiçoso e vai por aí afora podem ser melhorados pela medicina e
pelos avanços da cirurgia plástica, mas jamais extirpados. Contudo, muitos são
incapazes de sequer admitir defeitos, mesmo que estes sejam escandalosamente
ostensivos. Quem age assim, faz papel ridículo, de tolo, sem que nem mesmo se
dê conta. E são muitos os que têm esse procedimento. Sua vaidade exacerbada lhe
cega.
Há inúmeros indivíduos
que pavoneiam virtudes próprias, que só eles conseguem enxergar. E, por falta
de admissão dos defeitos, tornam rigorosamente impossível providenciar a mínima
correção. Como se vai corrigir o que se considera perfeito e à prova de
reparos? Não se corrige! Essa afirmação pode parecer pessimista aos
desavisados, mas é rigorosamente correta. É ditada pela experiência e pela
observação.
Todavia, a maneira como
revelarmos, aos que nos cercam, nossos defeitos, dirá muito sobre nossa
personalidade e, principalmente, sobre nosso empenho em melhorar. Isso em
relação aos que de fato se empenham nesse mister. Os que confessam suas
deficiências, por exemplo, depois de terem sido repreendidos, são modestos. Não
buscam justificativas para o injustificável e nem hostilizam quem os repreendeu.
Dispõem-se a se corrigir e raramente fracassam.
Já os que confidenciam
os defeitos que têm a amigos, são ingênuos. Todavia, são, também, confiantes.
Acreditam que terceiros poderão ajudá-los na correção do que entendem como sendo
ruim, ou imperfeito, embora estes, na verdade, possam até agir com deslealdade
e tirar proveito dessas confidências. É coisa para lá de comum, que acontece
todos os dias ao nosso redor, quando não conosco, nos causando profunda
decepção. Mas, pelo menos, os que agem dessa maneira têm a virtude de confiar nos que acreditam
serem amigos. E amizade, sem confiança, não passa de arremedo, constituindo-se,
na verdade, em feroz inimizade,
Todavia, há um tipo de
pessoas que é absolutamente incorrigível. É o das que alardeiam, aos quatro
ventos, seus defeitos, sem o menor pudor, tratando-os como se fossem vantagens
que tivessem sobre os demais. Claro que não são, mas... Estes sabem que sua
conduta é errada, porém julgam-se superiores ao adotá-la, fazendo questão de
serem “diferentes”, por remarem contra a
correnteza. Vão ao extremo de sentir, mesmo que não admitam (às vezes até
admitem), orgulho de suas deficiências. Estes não têm mais jeito!!! São
incorrigíveis!!! Certamente arcarão com as conseqüências de suas falhas, quase
sempre de caráter, contudo se recusam a pensar nisso.
Para não me apropriar
de idéias alheias, compete-me revelar que quem fez essa constatação não fui eu.
Minha capacidade não chega a tanto. Estas observações foram feitas há muito
tempo, em uma época remotíssima, perdida no tempo, pelo sábio chinês Confúcio. Datam
de por volta do ano 218 antes de Cristo!!! Como o homem, no essencial, pouco ou
nada mudou, a despeito do seu “verniz” de civilização, essas reflexões
permanecem para lá de atuais. Reflitam se esse brilhante guru tinha ou não
razão!
Boa leitura.
O Editor
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Tenho uma amiga que não leu Confúcio, mas fala que nunca se deve falar de defeitos para ninguém. Caso sejam visíveis, que se espere o outro notar.
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