Justo tributo a uma fênix das artes
cênicas
A importância de William Shakespeare é tão grande, notadamente
para a dramaturgia mundial, que ele “ganhou”, em fins do século passado, uma
espécie de “templo”, onde sua memória é reverenciada e onde suas geniais peças
são representadas pelas melhores companhias teatrais inglesas. Trata-se do “The
New Globe Theatre”, que hoje é uma espécie de ponto turístico de Londres,
visitado por turistas do mundo todo, inclusive pelos que nunca pisaram em um
teatro em suas vidas, mas que sabem, mesmo que apenas por alto, quem foi o
ilustre dramaturgo ao qual ele é dedicado. A idéia dos promotores dessa
oportuna homenagem foi a de reproduzir, com a maior fidelidade possível, a casa
de espetáculos original, da era elisabetana, com esse mesmo nome (sem o “New”,
evidentemente), da qual o bardo inglês, inclusive, foi um dos sócios.
Os “The Globe”, tanto o original, quanto o “genérico”, têm
suas histórias marcadas por obstáculos e tragédias. O primeiro deles foi
construído em 1599, no “borough” (uma espécie de distrito) de Southwark, em uma
área que era chamada de Bankside. Localizava-se na margem esquerda do Rio
Tâmisa e aproveitava a estrutura inacabada do que foi o primeiro teatro de toda
a Inglaterra, construído ali pelo ator James Burbage em 1576, mas que foi
demolido, por ordem das autoridades londrinas, em 1598, quando teve a licença
cassada pelo risco que apresentava à segurança dos espectadores (pelo menos
esta foi a razão alegada). Pois bem, da ruína do que era conhecido, apenas,
como “The Theatre” brotou o primeiro “The Globe”.
Durante catorze anos, as coisas transcorreram normalmente no
local. O teatro manteve-se como uma das principais, se não a principal casa de
espetáculos de Londres. Ali foram encenadas algumas das principais peças de
Shakespeare, como “Hamlet” e “Reri Lear”, entre tantas outras. Outras
companhias teatrais também encenaram produções, de outros autores, que não o
bardo inglês, sem nenhum problema. Mas... em 1613 ocorreu um acidente, que
poderia ter se tornado uma tragédia (felizmente não se tornou). O “The Globe”
foi completamente destruído por um incêndio. Seu teto de palha pegou fogo,
durante uma encenação da peça Henrique VIII. Foi atingido pela munição de um
canhão utilizado em cena. Dezenas de pessoas, entre atores e público presente,
se esforçaram para tentar apagar as chamas. Não conseguiram. Em menos de duas
horas, o “The Globe” foi completamente destruído.
Sua reconstrução, no entanto, se deu em questão de meses, e
nesse mesmo ano, em 1613. Ele permaneceu em atividade pelos próximos 29 anos,
até 1642. Mas... nessa ocasião, a Inglaterra foi abalada por imensa ebulição
política. Foi palco de sangrenta guerra civil, que propiciou a ascensão ao
poder dos puritanos, liderados por Oliver Cromwell. E estes viam no teatro nada
mais do que algo “satânico”, fonte de corrupção moral e de maus costumes. Ah,
esses fanáticos!!! Tendem a confundir, invariavelmente, “alhos com bugalhos”.
Cromwell, primeiro, determinou o fechamento sumário do “The Globe”. Dois anos
depois, em 1644, todavia, determinou sua completa demolição, o que de fato foi
feito.
A idéia de “ressuscitar” o velho teatro surgiria, apenas,
três séculos e cinco anos após sua definitiva destruição. Foi em 1949, quando o
diretor e produtor norte-americano, Sam Wanamaker, fidelíssimo admirador da
obra teatral de William Shakespeare, visitou Londres. Porém, da idéia inicial à
sua efetiva concretização passou um tempo enorme. O projeto foi posto em
execução somente em fins dos anos 80 e início dos 90 do século passado. O local
escolhido para a obra fica a somente 200 metros do “The Globe” original, em que
Shakespeare atuou por tantos anos. Foram feitas meticulosas pesquisas
arquitetônicas para que o novo teatro fosse o mais próximo possível daquele da
era elisabetana. Mas...
Isso mesmo, houve novo “mas” nessa história. Em 1993, Sam
Wanamaker faleceu. Porém, a essa altura, o esqueleto do “The New Globe” já
estava de pé. Pensou-se, primeiro, em abandonar o projeto, o que seria uma
pena. Não se abandonou (felizmente). E assim, três anos depois, o teatro foi
finalizado e reaberto, com pompa e circunstância. A reinauguração oficial
deu-se em 1997, com um espetáculo de gala. A casa de espetáculo, que apesar de
guardar as características arquitetônicas da original, do século XVII, é uma
moderna e confortável construção, foi batizada, oficialmente, como “Shakespeare's
Globe Theatre”. Nada mais justo para um gênio, questionado estupidamente por
muitos, que estão ávidos por “surfar” em sua fama. É um oportuníssimo tributo a
essa autêntica “fênix” da arte dramática, que conseguiu “renascer” depois de
uns dois séculos de completo esquecimento.
Boa leitura.
O Editor.
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Volta e meia a História nos apresenta novo déspota pronto a recriar a Idade das Trevas.
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