sábado, 31 de março de 2012







Tormenta

* Por Solange Sólon Borges


Ninguém crê que tudo se incendeia habilmente, depois de sermos batidos pelo temporal. Há a necessária compensação de forças entre os amores – luxúria, urgências, cobiça e fé – corpos desnudos com seus desejos encarcerados para que as muralhas cedam, afinal.

E eles querem partir, eles querem partir dos corpos celestes mas não podem: há o homem e há a fera.

Chegam os ferreiros batendo estacas sobre o peito: miasmas inundam os dias. O coração se reveste em pátina. O amor é premente e peço as sementes: eles comem os figos. Encontro vestígios de magma em minha pele bárbara.

São os pormenores da tormenta: sua face se dissolve na lembrança e peço uma foto como se pedisse qualquer rosto ou mesmo a alma. A ausência ressuscita Pã em meio ao pânico.

Mostrou-me o tango de suas pernas bailando entre as minhas no momento da submersão.

Tenho cios crônicos. Ata-me onde encontrar a fera e imagine a minha total fragilidade em seu retorno.


* Jornalista, dedica-se a diversos gêneros literários. Entre outras atividades, atua em alguns programas “O prefácio”, sobre livros e literatura. Um deles é o programa Comunique-se, levado ao ar pela TV interativa ALL TV (2003/2004). Apresentou, também, “Paisagem Feminina”, pela Rádio Gazeta AM (1999), além de crônicas diárias na Rádio Bandeirantes e na Rádio Gazeta — emissoras das quais foi redatora, repórter, locutora e editora.

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