quinta-feira, 22 de março de 2012







Bombas pequenas, estragos enormes

* Por Fernando Yanmar Narciso

O papel da história é mudar as regras do jogo. Graças ao boca-a-boca, psicopatas tornam-se salvadores de seu povo, marginais cruéis e assassinos tornam-se heróis intocáveis, verdades tornam-se mentiras e vice-versa. Não se sabe como alguns estereótipos e generalizações surgiram e continuaram a ser herdados por essa e pela próxima geração, mas bem que podemos ter algumas idéias.

O maior lugar-comum de todos é dizer que, até que provem o contrário, todo político é corrupto. Suponho que, num passado remoto, os políticos queriam de fato o bem do seu povo, sentindo orgulho de ser honestos e produtivos. Mas aí, em algum ponto da história do mundo, uns dois ou três foram flagrados com as calças na mão. Uma fruta podre faz todas as outras do cesto apodrecerem, então passaram-se os séculos e agora os que talvez fossem a exceção tornaram-se a regra.

A sujeira é tanta que vemos nos horários eleitorais candidatos que mal sabem soletrar a palavra “política”, como Tiririca e Ronaldo Esper, tornando-se campeões do “voto de protesto”, pois sabemos que essa gente, por nunca ter sido política, ainda não adquiriu o gosto de roubar e mentir para o povo, logo seriam, nas palavras de Marcelo Nova, dois gominhos de laranja nadando num mar de vodca.

O mesmo vale para os policiais. Certamente, em algum ponto da história, alguém passou uma raiva enorme num posto policial de beira de estrada, foi humilhado por dois guardas “comedores de bola”, contou o apuro pra família, que espalhou pros vizinhos, e deu no que deu. Agora os meganhas que tentam ganhar a vida honestamente viraram os “manés” aos olhos dos colegas espertalhões e do resto do mundo.

Dizem por aí que os brasileiros são um dos povos mais trabalhadores do mundo, mas não é assim que o resto do mundo nos vê. Agradeçam a Walt Disney. Quando os Estados Unidos tentavam se aproximar da América do Sul durante a 2ª Guerra Mundial para evitar que o fascismo cruzasse o oceano, ele veio ao Brasil conhecer nossos costumes com a intenção de criar um personagem brasileiro. Acontece que ele muito provavelmente desembarcou no Rio de Janeiro, na época do Carnaval, e aí já viram. Ele se saiu com o Zé Carioca, sujeitinho malandro, dorminhoco, trambiqueiro, que é capaz de vender a própria mãe papagaia para escapar do trabalho. Devíamos ter nos rebelado contra esse estereótipo criado pelos norte-americanos, mas resolvemos aplaudi-lo e reverenciá-lo, afinal de contas foi Walt Disney quem o criou, né? E, talvez, graças a esse Brasil “colorido” pintado ao som de Ary Barroso, o FMI e a ONU tenham demorado tantos anos para nos levar a sério.

Podem me chamar de louco, mas creio que, talvez no início, o Bispo Edir Macedo tenha fundado a Igreja Universal com a melhor das intenções. Mas quando viu o quanto a patuléia mal-instruída era capaz de deixar na caixinha do templo, resolveu transformar-se num “religioso empreendedor”, encheu o forévis de dinheiro e construiu aqueles templos faraônicos em todo o mundo, quase tão grandes quanto o Maracanã. Então, alguns pastores talvez bem-intencionados de templo de galpão abandonado, sentiram inveja de todo aquele dinheiro e resolveram seguir o caminho apontado pelo bispo, e agora temos R.R Soares, Silas Malafaia e outros arrecadadores pedindo senha do cartão de crédito dos fiéis na TV.

A AIDS foi descoberta no fim dos anos 70, e por algum tempo não prestaram muita atenção na doença. Mas nos anos 80 grandes astros como Rock Hudson, Cazuza, o guitarrista dos B-52s Ricky Wilson, Freddie Mercury e Lauro Corona foram diagnosticados com o vírus. Todos eles tinham uma coisa em comum, o homossexualismo. Logo a AIDS ganhou o horrível apelido de “Câncer dos Gays” e a religião, é claro, deitou e rolou com o fato, usando a doença como arma química para trazer as pessoas de volta ao “caminho de Deus”. Deu tão certo que até hoje alguns ainda a chamam de Câncer dos Gays, e há quem ofereça serviços de “cura” para homossexualismo, não só nas igrejas e templos mas até em consultórios psiquiátricos.

• Designer e colunista do Literário.Blog Terra de Excluídos, http://terradeexcluidos.blogspot.com

2 comentários:

  1. Memorável! Excelente texto.
    Parabéns.
    Abração

    ResponderExcluir
  2. Caso houvesse cura para corruptor e corruptível, então que fosse praticada. Miscelânea que faz sentido.

    ResponderExcluir