domingo, 18 de março de 2012









Ora, bolas!

* Por Lêda Selma

Bola? Não, não queria ser, de jeito maneira. Até porque ela é gorda, desengonçada, bochechuda. Nem elegante nem estilosa. Menos ainda, se chamada de bolota...

Sem dúvida, a dama dos gramados tem poder, o que a faz sentir-se com a bola toda. Sem modos, dá bola a vinte e dois homens, simultânea e levianamente, e rebola, embola-se com eles na grama, passando de mão em mão, de pé em pé, insinuante, em boleios de volúpia, deixando seus súditos às tontas, ou, como se diz no Rio Grande do Sul, “como bola sem manicla”. E assim, com a bola cheia, age, às vezes, como se não batesse bem da bola.

Verdade seja dita: não é fácil ser bola. A pobre não tem sossego: é bolinada, chutada, pisada, manipulada; ora amada por vários, odiada por uns, desejada por tantos, temida por muitos; ora acarinhada, beijada, cortejada. Tudo isso, claro! deixa-a bolada.

Ah! e os vexames por que já passou em função dos mal-entendidos e do uso inconveniente de seu nome!? “O treinador levou bola nas costas”. Sim, e daí? O que a gordota tem com a maldita traição?! Azar o do traído, ora bolas! De outra vez, alardearam: “Ele comeu a bola”! Isso foi demais, que acinte! Um bolodório daqueles, até que a explicação veio: “O jogador é bom, fez jogadas primorosas!”. Que alívio! No entanto, se for o cão que comeu bola, aí, o pobre já virou extinto.

De novo, constrangimento: “Então, você entrou com bola e tudo?”. Baita indelicadeza! A bola da vez merecia mais respeito. Entretanto, logo trataram de explicitar: “O atacante, voraz, driblou o goleiro, e entrou no gol com a bola”. Ufa!

Certo engraçadinho confundiu todo mundo: “Hum... aquele, lá, engoliu a bola!”. Para sossego da própria e dos ouvintes, o fulano referia-se a uma bela jogada do companheiro.

Sustos? Alguns. Foi o grito quem anunciou: “Bola ao alto”! Quem não se apavoraria, imaginando-se assaltado?! Felizmente, tratava-se, apenas, do lançamento da bola entre dois jogadores. Doutra feita, alguém enfatizou: “Bola presa”! Nossa, até a ficha cair, a pobre já se viu algemada. Mas, no rolar da bola, ficou claro: nada mais que simples infração. Todavia, susto, susto, ela levou ao ouvir o tom desesperado: “Ai, ai, ai, machuquei as bolas!”. Bem, nesse caso, a vítima dispensou quaisquer comentários. Mas que deu dó, ah! deu!

Tudo isso, no entanto, é fichinha perto de situações muito piores e que, de uma forma ou de outra, mesmo por tabela, deixam a bola em posição incômoda. Aconteceu quando diversas “Excelências”, a tevê e os jornais disseram, “levaram bola”! Não, não surrupiaram a bola; o tal surrupio foi bolada mesmo, bolada farta, espalhada na cueca, nas meias, na bolsa, na mala, também conhecida como suborno, propina. Essas “Excelências”, políticas, empresariais, judiciárias e policiais, sempre bolam formas mirabolantes de fraudar o país. Assim, pisam feio na bola. Merecem bola preta esses bolas murchas!

Há, entretanto, outro tipo de bolada, estilo pancada mesmo, que atinge a maioria dos brasileiros, a cada imposto, a cada CPI, a cada sessão extraordinária ali, lá e acolá... O jeito, partir para o bolão na tentativa de diminuir o prejuízo. Arre, é tanta bolação que corro o risco de até trocar as bolas!

O importante é que, de bola em bola, o gol enche a rede para a felicidade geral das cores e distintivos. Que assim seja na Copa de 2014. Mas, por favor, Seleção, chega de bola quadrada, tamanhos vexames estão virando bola de neve, credo! Mano, você periga receber uns bolaços, hem?! Então, bola pra frente!

Não tenho bola de cristal, mas sei que a coisa está afro! E que, em 2014, a bela, ao rodopiar toda dengosa pelos gramados, busque sempre a alcova branca da rede (do time adversário, naturalmente!) para a cópula com o gol.

Momento poético:

No silêncio do olhar ausente
se esconde a dor e refugia o medo
e morre o sonho que se fez finito.

• Poetisa e cronista, licenciada em Letras Vernáculas, imortal da Academia Goiana de Letras, baiana de Urandi, autora de “Das sendas travessia”, “Erro Médico”, “A dor da gente”, “Pois é filho”, “Fuligens do sonho”, “Migrações das Horas”, “Nem te conto”, “À deriva” e “Hum sei não!”, entre outros.

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