Um doce vilão!
* Por
Maria Eugênia Amaral
Senta que lá vem
história... Crianças que nasceram no século passado aqui pelas bandas do
Centro-Oeste corriam muito e por toda parte ─ em quintais, em ruas, em trilhas
e nos recreios. E precisavam de um bom combustível para tanta atividade.
Usando-me confortavelmente como parâmetro: eu era movida a rapaduras, bolos e
pães caseiros. E era, inacreditavelmente, magra.
Atualmente as crianças
não correm tanto. Há pouco espaço entre o sofá e a TV. Hoje, quem anda pra
valer são seus avatares em jogos online. Como correm para a caça de pokémons! E
o combustível também mudou drasticamente: bytes para o avatar; biscoitos,
chocolates e refrigerantes para quem, sentado, manipula o celular. Pouca
atividade física e muita guloseima industrializada. Agora basta somar os dois
para obter o resultado: obesidade. Foi-se o tempo em que criança rechonchuda
era bonitinha... E a história começa a preocupar, com o considerável aumento do
risco de hipertensão arterial infantil (que até recentemente era coisa exclusiva
de adultos).
Alarmantemente, avós,
tias e mães (e o lado masculino da família também) colocam refrigerantes em
mamadeiras. Já presenciei várias vezes esse ato insano ─ ou talvez ingênuo, por
simples desinformação. No Brasil algumas mudanças são mais lentas do que
outras. Mas, quem sabe, não copiaremos rapidinho os novos hábitos que estão
sendo adotados lá fora? Em 22 de agosto de 2016, cerca de três meses atrás, a
Associação Americana do Coração (American Heart Association, nos EUA) emitiu
uma nota recomendando enfaticamente que “bebês e crianças com menos de dois
anos não devem comer nenhum alimento com adição de açúcar”. Veja bem: NENHUM
AÇÚCAR ADICIONADO. Ou seja, alimentos adocicados pela própria natureza são
permitidos, como frutas. E a Associação vai além: “Já as crianças maiores devem
ingerir açúcar adicionado somente em uma quantidade equivalente a, no máximo,
100 calorias por dia”. Ou seja, para maiores de dois anos de idade, o limite
está em torno de 25 gramas de açúcar diários (menos de seis colheres de chá).
Uau! Já vi muito achocolatado familiar por aqui com muito mais do que isso em
cada porção.
As recomendações
frisam também que tais restrições são cruciais nos primeiros anos de vida:
“Essa idade é particularmente importante porque é quando as crianças
desenvolvem suas preferências de sabores”.
Bom senso à mesa. Vida
saudável, quem diria, não precisa ─ e nem deve ─ ser tão doce!
*
Escritora.
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