Caminhos do Tempo
A visão do tempo precisa ser mudada.
Temos que valorizar mais o presente e vivê-lo intensamente, cônscios de que a
vida não tem reprises. Nunca devemos adiar para um incerto amanhã o amor, os
ideais, os gestos de nobreza e solidariedade e a manifestação das nossas
melhores características.
Octávio Paz acentua, em um ensaio
publicado há alguns anos pelo “Jornal da Tarde” de São Paulo: "Saber que
somos mortais nos leva a indagar: que futuro melhor nos espera? A ameaça de
aniquilação do mundo deu novo e redobrado valor à hora presente. A presença é
um novo erotismo fundado, não na eternidade, mas no aqui e no agora".
Já passou pela cabeça do leitor que
pode nem haver um ano 2017 para a humanidade? Pode não ser oportuna a menção
dessa possibilidade, mas que ela existe, é um fato. Mesmo que não seja provável
(e ninguém sabe se é ou não), isso está perfeitamente dentro das possibilidades
lógicas, admitam ou não. Poderíamos traçar inúmeros cenários possíveis que
levariam o mundo à catástrofe e, talvez, à destruição.
Suponhamos que ocorra uma guerra
nuclear. Ou que um meteoro atinja a Terra e a destrua. Ou que um outro tsunami,
de gigantescas proporções, surpreenda países e cidades. Os perigos a que
estamos expostos são infindos e tantas e tantas catástrofes podem acontecer,
anunciadas ou não. E raramente nos damos conta (se é que nos damos) desses
riscos potenciais.
Comparei, certa feita, nossa vida a um
intrincado labirinto, em que caminhamos, por entre o emaranhado de inúmeras passagens,
à procura de uma saída. Atrás de nós, segue a morte, nos procurando para nos
levar. Viramos para um lado, imbricamos por outro, fazemos ziguezagues para cá,
para lá, até que, em determinado momento, que não temos a mínima condição de
saber quando será, cruzamos com nosso implacável carrasco. E então...
Adeus aos sonhos e ilusões! O que foi
feito, muito que bem. O que não, jamais será realizado por nós. É preciso ter
sempre em mente (e, por mais óbvio que seja, relutamos em admitir) o tempo é o
nosso mais precioso capital, que não podemos desperdiçar. Comparei-o, numa
outra crônica, a uma esteira rolante diante da qual estamos, num determinado
ponto da sua passagem. A parte que já passou por nós de forma alguma vai
voltar. O que está à frente, o futuro, a cada piscar de olhos ou bater de asas
de um beija-flor se transforma em passado.
E o que passa velozmente diante de nós,
com tamanha rapidez que sequer o percebemos, é o presente, fugaz, invisível e
volátil. E isto enquanto pudermos permanecer diante da esteira porque, num
determinado prazo, que não temos a mínima possibilidade de conhecer qual é,
teremos de sair definitivamente dali.
Não há, portanto, momentos inúteis,
vazios, ociosos, cuja perda possamos recuperar. Todos, sem exceção, são irrecuperáveis.
Nós é que quase nunca sabemos como equacionar o tempo. Preenchemo-lo, via de
regra, com banalidades, fatuidades e tolices e depois reclamamos da falta de
sorte e de outras tantas coisas, na tentativa de justificar erros e fracassos.
Já Austregésilo de Athayde utilizou-se
de outra metáfora, esta bem a caráter para este período de despedidas de 2016 e
de recepção de 2017. Escreveu, na crônica “Relembrar, esquecer...” (publicada
na extinta revista “O Cruzeiro”, em 22 de janeiro de 1966): “Imagino a passagem
de ano como quem vai viajando numa longa estrada. Surgem os campos, as
montanhas, os rios, as pequenas e grandes cidades. E a marcha prossegue. Umas
imagens deixam as outras esmaecidas, até que desaparecem”.
É assim, também, que encaro a entrada
de cada novo ano. É um caminho que se desenha à nossa frente, com inúmeras
possibilidades. Pode ser que se trate, por exemplo, de uma estrada, como essas
modernas rodovias européias, ou norte-americanas (ou algumas brasileiras), com
asfalto perfeito, como um tapete negro sem rugas, totalmente sinalizada, sem
nenhum tipo de obstáculo. Mas pode, também, ter muitos buracos em determinados
trechos e até terminar em um profundo abismo, que surja, de repente, à nossa
frente, sem nenhum aviso prévio, não nos permitindo, sequer, frear nosso carro.
Temos, pois, que estar preparados para
todas essas instâncias. Ademais, requer-se a consciência de que passaremos por
essa estrada uma só vez. Temos que aproveitar, pois, da melhor maneira
possível, essa “viagem”, porquanto, queiramos ou não, estejamos ou não
conscientes, os caminhos do tempo nunca têm retorno.
Boa leitura!
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Também vejo o ano como uma estrada e os meses têm sempre as mesmas características e cor.
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