A vida uma aventura
* Por
Ana Suzuki
Não sei se consigo
encarar a vida com otimismo. E tampouco com pessimismo. Viver é uma aventura, e
numa aventura o que se pode esperar inclui o inesperado.
Lembro-me de quando
vim morar em Campinas, há décadas. Eu morava no fim da rua e tinha que caminhar
até o ponto do ônibus. Na área a percorrer havia apenas um terreno baldio, onde
pastavam algumas cabras.
Como é que eu podia
adivinhar que um dia, naquele exato local, seria construído um prédio de
apartamentos, que eu iria casar-me com um japonês e morar no segundo andar?
Como, se ainda não havia o prédio e eu nem conhecia o japonês?
E assim tem sido
sempre - um suceder de fatos inesperados.
Há alguns anos, estava
eu limpando camarões para comemorar o meu aniversário, quando, de repente
comecei a sentir enjôo. Como é que eu ia pensar que a náusea era o prenúncio de
um infarto, se camarões grandes têm tripas nojentas mesmo?
E depois, na Unidade
de Tratamento Intensivo, sabendo que em minha família nunca ninguém havia
escapado de um infarto, como eu ia saber que dali a cinco dias estaria em casa,
comemorando com atraso o meu aniversário e comendo aqueles mesmos camarões, que
eu tivera tempo de deixar limpinhos e congelados?
A vida, por rotineira
que seja, é sempre uma aventura.
*
Escritora e acadêmica da Academia Campinense de Letras.
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