O "onde" de Marcelo Labes
* Por
Iran Silveira
“Só quem viveu foi que
viu”.
Imagine um dos
parágrafos-verso de “Porque sim não é resposta”, com suas três, quatro linhas,
desenvolvido até o tamanho de um livro como o próprio “Porque sim...” E você
terá uma boa ideia do que é “O filho da empregada”, obra recente de Marcelo
Labes, escrita ano passado e que finalmente chega às mãos dos leitores em forma
de papel.
Já nas primeiras
páginas voltamos a enxergar no texto aquela cena arquetípica do poeta vertendo
sangue nas folhas -- ou, neste caso, no teclado do computador. Intensidade é
uma palavrinha importante aqui.
Não poderia ser
diferente, vertendo fragmentos da própria vida. Coragem é outra palavrinha
importante. Honestidade também.
O novo Labes é cheio
de cenas emocionais, como a mãe e o filho pegando o ônibus de manhã cedo, no
frio, para ela ir trabalhar; a rotina da mãe com os patrões, onde o leitor
empatiza com a personagem; o constrangimento da mãe diante do próprio filho na
mesa de jantar; a discriminação das crianças ricas; e outras reminiscências,
muitas vezes pungentes.
No lado mais racional,
temos as ponderações do autor sobre os episódios citados; a narrativa da
transformação do menino em homem; a quase hilariante, se não fosse séria, lei
assinada por Médici e o autor; logo depois dessa lei, passagens filosóficas
sobre religião, política e literatura; o surrealista direito de resposta dos
patrões; e a réplica do filho.
Finalmente, um recado
para o autor e amigo. Há um trecho que diz: "Onde é esse onde que se
alcança depois de muito se esforçar?"
Aquele
"onde" realmente não era o que ela dizia. Mas de um jeito muito mais
valoroso, teu “onde” é tua obra, e nessa obra “O Filho da Empregada” ocupa um
lugar muito especial. Traga mais dessas pra nós.
FICHA:
O QUÊ: Lançamento do
livro “O Filho da Empregada”, de Marcelo Labes.
QUANDO: 12 de abril de
2016, às 19h30.
ONDE: Rua Getúlio
Vargas, 227 (Casa Sesc).
MAIS: Música ao vivo
com Guilherme Kxopa e bate-papo com o autor.
*
Jornalista
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