Aliança
* Por
Gustavo do Carmo
Acordei com um negócio
dourado reluzindo no meu dedo. Mais precisamente no anelar direito. Era uma
aliança. De noivado. Nunca namorei na minha vida. Nem sei como essa joia brilhante
foi parar na minha mão, envolvendo a minha falange.
Puxando a minha
memória não consigo me lembrar onde arrumei essa aliança. Será que eu fiquei
bêbado? Será que no meu período de suposta embriaguez alguma mulher colocou a
sua aliança no meu dedo? Será que alguém me dopou? Caí no golpe Boa Noite
Cinderela às avessas? Será que quando acordar terei que me casar com uma mulher
feia, preta e gorda?
Que interesse teria
alguma mulher de me dar um golpe da barriga? Sou feio, gordo e, ainda por cima,
pobre. E desempregado. Mal tenho renda. Me sustento com a aposentadoria que a
minha mãe deixou ao morrer e eu não comuniquei ao INSS.
Mas agora consegui me
lembrar. Gastei o seguro-desemprego, que ganhei do meu último emprego de office-boy
de uma distribuidora de peças, numa aliança de ouro de baixo quilate. Mandei gravar
o nome da minha noiva imaginária e terminei o dia no bar da rua da joalheria,
enchendo a cara.
O ajudante do dono do
bar e alguns bebuns de plantão me trouxeram de volta pra casa. Me deixaram na
minha cama, tiraram meus sapatos, minha calça jeans e meu casaco. Me cobriram,
me deram um beijo paternal de boa noite, apagaram as luzes e foram embora.
E hoje acordei com
esta aliança de noivado reluzindo no meu dedo anelar direito. Uma aliança que
eu nunca vou usar de verdade, já que eu nunca vou ficar noivo de alguma mulher
na minha vida. É apenas um sonho.
*
Jornalista e publicitário de formação e escritor de coração. Publicou o romance
“Notícias que Marcam” pela Giz Editorial (de São Paulo-SP) e a coletânea
“Indecisos - Entre outros contos”.
Bookess -
http://www.bookess.com/read/4103-indecisos-entre-outros-contos/ e
PerSe
-http://www.perse.com.br/novoprojetoperse/WF2_BookDetails.aspx?filesFolder=N1383616386310
Seu blog, “Tudo cultural” -
www.tudocultural.blogspot.com é bastante freqüentado por leitores
As mulheres feias, negras e gordas também têm o direito ao amor.
ResponderExcluirClaro. Claro. Mas não o meu. A não ser amizade.
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