terça-feira, 1 de março de 2016

Ensaio


* Por Eduardo Oliveira Freire

“Talvez as histórias que contei sejam uma única história. O anverso e reverso da mesma moeda são, para Deus, iguais”. (Trecho do conto “História do guerreiro e da cativa” de Jorge Luis Borges)

No começo, eu queria escrever sobre uma jovem francesa, que era serva de um feudo, localizado na França. Era maltratada pelo seu senhor e desejava vingança. Entrei num conflito existencial. Por que escrever uma história passada num outro país? Sou brasileiro! O Brasil é tão lindo e tem um povo tão bravo. Por que não transformar a personagem da história em negra escrava? Por que não contar história sobre as duas? Mas como? Escrevendo...

Uma era serva a outra escrava. Apesar de viverem em lugares distantes e culturas diferentes, tinham alguns pontos em comum: a falta de liberdade, humilhações, miséria e sentimento de vingança.

As histórias de ambas são as seguintes: os seus senhores destruíram suas respectivas famílias. O senhor do feudo matou o pai da moça francesa. Enquanto o coronel do engenho separou brutalmente a jovem escrava de sua mãe. Elas decidiram se vingar. Aprenderam a manipular ervas venenosas e mataram os seus algozes. Ninguém soube que foram elas, porque os venenos que prepararam não possuíam vestígios. Mas, com o passar do tempo, descobriram que não adiantou matar os dois senhores. O mal estava inserido nas estruturas das sociedades em que viviam. Continuaram as injustiças, os desmandos e a impunidade. Vieram outros algozes para atormentar suas vidas. A situação era muito mais complexa do que elas podiam imaginar.

Entretanto, havia um momento de pausa para suas mazelas. Quando se olhavam através do espelho, reconheciam-se e compartilhavam suas respectivas angústias. Na verdade, não escrevo duas histórias paralelas e sim uma só...

* Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo cultural e aspirante a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/



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