Ler é viajar no pensamento do outro
* Por
Mara Narciso
Uma vez me desentendi
on-line com meu amigo escritor Luiz de Aquino Alves Neto, membro da Academia
Goiana de Letras. Falei que as academias de letras alimentavam vaidades. Cedo
voltamos às boas, e nossa amizade virtual, que nasceu em 2002, frutificada
pelas nossas trocas literárias está a cada vez mais sólida.
Pertenço ao Instituto
Histórico e Geográfico de Montes Claros e à Academia Feminina de Letras de
Montes Claros, e na última, acabamos de eleger por unanimidade e dar posse a
nova diretoria da qual faço parte. Mudei eu ou mudaram as academias? A disputa
de egos acontece nas atividades intelectuais assim como em algumas outras, e
isso não é um mal em si. O convívio é estimulante para que possamos melhorar.
As academias de letras
costumam ter 40 cadeiras como a Academia Francesa de Letras, a primeira delas.
A imortalidade acontece pela maneira como as entidades são organizadas. Cada
cadeira tem um patrono, pessoa já falecida que contribuiu para a cultura. Por
morte, as vagas surgem, e por indicação ou votação, as mesmas são reocupadas.
Os membros são chamados acadêmicos e entre si confrades e confreiras. Quando
indicado, ou ao chegar, uma apresentação é feita, a produção literária e a
biografia são apreciadas. Na posse ou noutra oportunidade o novo integrante faz
um elogio ao seu patrono, e, caso tenha tido predecessores em sua cadeira, fala
de cada um que por lá passou. Assim, ao ser várias vezes lembrado e elogiado, a
pessoa se imortaliza.
A Academia Feminina de
Letras de Montes Claros não tem preconceito de gênero, mas engloba apenas
mulheres para valorizar o trabalho intelectual feminino. Surgiu de uma vontade
da nossa mestra Dona Yvonne Silveira, que foi presidente da Academia Montesclarense
de Letras durante 30 anos. Ela partiu em 17 de abril deste ano, após fazer cem
anos, e em franca atividade. Deixou imensas saudades e nos legou a Academia
onde mulheres escritoras de várias profissões produzem textos e os publicam.
Fundada em setembro de
2009, a Academia está presente nos eventos culturais, firme e reconhecida, pois
em conjunto temos maior visibilidade. Sob a batuta de Marta Verônica
Vasconcelos, ex-presidente, a entidade já publicou cinco livros de antologia,
abertos a toda acadêmica dentro de um tema votado. São eles: A Mulher e o
Trabalho, Testemunhas da História, Universo Feminino, Caminhos de Montes Claros
e A Mulher e a Música. No último dia 24 de novembro empossamos Ângela Vera
Tupinambá Castro, que atuará como presidente nos anos 2016 e 2017. A
importância do evento se deu pela casa cheia – Buffet Casabella-, e pela mesa
de honra que contava com Itagiba de Castro Filho, ex-presidente e conselheiro
do CRM-MG – Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais, Evany Calábria,
presidente da Academia que deixava o cargo, Wanderlino Arruda, presidente da
Academia Montesclarense de Letras, Itamaury Teles, presidente da Academia
Maçônica de Letras, Jorge Patrício, presidente da Academia Corintiana de Letras
e Carlos Muniz, Secretário Municipal de Cultura.
A nossa cor é lilás,
representada em toalhas, banner, flores e pelerines, que dão um toque formal. A
mestra de cerimônias foi Glorinha Mameluque, a nossa 1ª presidente. Quatro
confreiras tomaram posse: Palmira Teles, Marlene Bandeira, Doris Araújo, e
Alcione Vieira. Como foi lançado o livro A Mulher e a Música, a cerimônia foi
acompanhada pela organista Lucinha Macedo e a cantora Maristela Cardoso. Os
pontos altos da festa, para além dos discursos de praxe, foram a interpretação
de um poema de nome “Veludo” por Palmira Teles, de 95 anos, numa vitalidade e
memória admiráveis e uma gostosa apresentação músico-teatral, na verdade uma
brincadeira com a memória musical das escritoras. Voluntários fizeram uma
divertida performance, comportando-se de acordo com o tema indicado pela
cantora/diretora. Com a ajuda de adereços o clima mudava de música infantil
para lírica, romântica, regional, caipira, religiosa e de Natal numa festa
incontida, deixando a platéia colada na cena. Ao trocar a música, o mesmo
cenário, vestuário e pessoas se transformavam, como se um efeito especial
tivesse acontecido, mas era “apenas” a mudança da música.
Sandra Fonseca é sócia
correspondente e aproximou-se com a senhora sua mãe, dona Terezinha Batista
Fonseca para me conhecer. Disse gostar do que escrevo, o que me deixou
lisonjeada. Então, emocionar, modificando o interior e o exterior é o que o
escritor pretende e em conjunto, nas Academias, faz melhor. Diante de uma tela
em branco, os pensamentos levam os dedos a teclar, as frases vão surgindo e nem
imaginamos quantos e de que forma levamos a viajar conosco. Assim como a boa
música, o texto vai mudando o mundo onde quer que vá.
*Médica endocrinologista, jornalista
profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e
Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a
Hiperatividade”
Bom conhecer um pouco dessa Academia exclusivamente feminina. Já tive 3 convites para ingressar em uma determinada Academia de Letras, mas declinei. A impressão que tenho é que, uma vez acadêmico, o autor é "investido" de uma seriedade e um zelo com a própria lavra que acaba tolhendo uma produção mais espontânea e descompromissada - como o humor, muito presente no meu trabalho. Enfim... um abraço pra você, Mara. Sucesso para a Academia.
ResponderExcluirPode parecer que aconteça uma sisudez, mas não notei a minha mão amarrada. Sinto-me livre para errar. Agora mesmo fiquei imaginando se não seria melhor escrever "aonde quer que vá", como também "ao ser várias vezes lembrada e elogiada, a pessoa se imortaliza". O texto perfeito é difícil e raramente a gente consegue chegar na correção necessária, Marcelo. Agradeço a passagem e o comentário. Muito obrigada!
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