Série difícil de concluir
O tema, referente a personagens femininas inesquecíveis na
literatura de ficção, que me foi proposto, há já algum tempo, por um leitor, é,
simultaneamente, dos mais fascinantes e dos mais frustrantes. O fascínio é
óbvio. É o ditado pela observação de como os grandes escritores (romancistas,
contistas, novelistas etc.) “enxergaram” a mulher e a retrataram em suas
criações. Quando lemos livros de ficção raramente atentamos para esse pormenor.
Concentramo-nos, salvo exceções, nos enredos, ansiosos por chegarmos à última
página para conhecermos o desfecho. Já a frustração está no fato de ter que
restringir a quantidade de obras abordadas. Quando iniciei esta série, a idéia era
a de tratar de, no máximo, trinta histórias, destacando as respectivas
protagonistas, com as devidas justificações (e as mais resumidas possíveis) do
porque as considero “inesquecíveis”. Todavia, a cifra já se aproxima do dobro
do que foi planejado e percebo que tenho várias e várias e várias outras personagens
a abordar.
Sempre que o assunto vem à baila, na roda de amigos (e ele,
invariavelmente vem, à minha revelia), alguém observa: “Como você esqueceu de
Fulana?”. Ao que respondo: “Calma, a série ainda não acabou”. E lá vou eu
tratar da personagem citada, relendo trechos dos romances ou contos em que ela
aparece, para refrescar a memória. Quando penso: “Agora já posso mudar de
assunto”, outro “alguém” me questiona: “E Sicrana? Você não a considera inesquecível?!”.
E eu repito todo o processo outra vez. Já me citaram, sem exagero, dezenas de
protagonistas femininas, cujos perfis, a seguir, tracei e algumas pautei para
os próximos dias. Nunca me passou pela cabeça que o assunto renderia tanto.
Talvez... renda ainda muito mais, a menos que surjam temas inadiáveis,
referentes a livros e seus autores, que me obriguem a interromper a série.
Não posso avaliar a aceitação das minhas tão resumidas
análises na internet, pois o retorno, por este meio, é relativamente baixo.
Mas, no meu círculo de amigos, a repercussão é muito maior do que a que eu
esperava. A depender deles... seguirei tratando do tema “per omnia saecula
saeculorum”. Não que isso me desagrade, longe disso. Temo que desagrade, isso
sim, meus pacientes e fieis leitores, que talvez esperem de mim outras
novidades e coisas mais inteligentes. Por mim, seguirei tratando do tema por
tempo indeterminado, com uma ou outra interrupção. Afinal, estou no meu
ambiente, fazendo o que mais gosto, que é ler e reler (quando o caso) meus
livros favoritos e opinar a propósito.
Pesquisando na internet, dei de cara com anúncio de uma
palestra, que já aconteceu (em 25 de fevereiro de 2014) e que gostaria de ter
assistido. E como gostaria!!! O tema? “Personagens femininas na literatura”.
Estou seguro que o teor dela acrescentaria muito ao meu conhecimento sobre o
assunto. Ela foi realizada no campus Santa Mônica da Universidade Federal de
Uberlândia. A palestrante foi das mais qualificadas. Foi a professora Lyslei
Nascimento, da Universidade Federal de Minas Gerais. De acordo com o anúncio, o
tema foi mais restrito do que este que venho abordando. A ilustre doutora em
Letras Comparadas, que além de se doutorar pela UFMG, fez pós-doutorado pela
Universidade de Buenos Aires, centrou sua palestra num assunto específico: “Mulheres
que matam em busca de justiça”. E restringiu ainda mais. Abordou,
especificamente, duas personagens femininas, ambas, sem dúvida alguma,
inesquecíveis: a figura bíblica de Judite (também personagem de um conto da
escritora portuguesa Deana Barroqueiro”) e... Emma Zunz. Esta última fez-me
lamentar à enésima potência por não ter ouvido a tal palestra. Por que? Porque
se trata de personagem de um conto, do mesmo nome, deste que considero meu “guru”
literário, Jorge Luís Borges.
E lá vou eu dar sequência à minha interminável série,
abordando (mas não hoje) estas duas emblemáticas figuras femininas da
literatura. Deana Barroqueiro, para quem não a conhece, é uma escritora
portuguesa da minha faixa etária (é dois anos mais nova que eu, pois tem 70
anos). Embora nascida nos Estados Unidos, tem dupla nacionalidade e reside,
desde os dois anos, em Lisboa. É considerada uma das mais destacadas
ficcionistas de língua portuguesa do século XXI. Trata de Judite em seu conto “Langores
de Holofernes”. Quanto a Borges... bem, pretendo dar-lhe, como seria de se
esperar, tratamento especial. Abordarei não somente Emma Zunz, mas também as
personagens femininas (todas inesquecíveis) dos seus contos “Ulrica”, “O Aleph”,
“O Zahir” e “A intrusa”. Só não garanto que sejam as últimas protagonistas a
serem tratadas nesta já tão extensa série, embora esta seja minha intenção.
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Vamos nos perdendo nesse emaranhado de personagens. Tão complexo criar uma personalidade. Nem mesmo a nossa somos capazes de definir com exatidão. O que pensamos de nós pode ser o oposto de que pensa alguém que nos conheça bem.
ResponderExcluir