Prêmio pago
* Por Rosana Hermann
Quando fui trabalhar com propaganda,
fiquei surpresa e chocada ao ver que a maioria dos prêmios importantes, aqueles
que premiam campanhas fantasmas, cobram uma fortuna para inscrever cada peça.
Só quem tem muito dinheiro é que pode investir nestas premiações. Não sei dizer
se há ou não influência política nas decisões mas eu soube de um prêmio ao
menos cujo resultado final é selecionado pelos patrocinadores.
Pois hoje, eu recebi um email referente
a um prêmio que me deixou pasma. Quero deixar bem claro que não me inscrevi no
mesmo e só soube ter sido laureada ao receber um ramalhete de flores em minha
casa. Li o cartão, entrei no site, conferi o resultado. Eu tinha mesmo recebido
o prêmio em uma determinada categoria. Em seguida, recebi um convite eletrônico
para a festa de entrega do prêmio. Até aí eu estava achando tudo interessante e
até lisonjeiro. Até que recebi um email dizendo que era esperado que cada
vencedor adquirisse ao menos dez convites para o jantar de premiação, no valor
de duzentos reais cada um. Trocando em miúdos, cada vencedor seria responsável
não apenas por levar dez pessoas mas também pagar dois mil reais para que eles
comessem. E tudo, claro, em nome da chiqueteria do evento.
O que mais me sensibilizou, porém, foi
a colocação de que a pessoa que, ‘por motivos justos’, não adquirisse o
convite, não ficaria fora da festa. Fiquei me perguntando qual seria o tamanho
do constrangimento de um premiado em submeter a julgamento do promotor da noite
se os seus motivos para não pagar dois paus seriam ou não motivos justos.
Particularmente, tenho uma coleção de motivos justíssimos para não adquirir os
convites, não ir à festa, não receber o prêmio e não responder ao email.
Sei que estas coisas existem,
acontecem, mas a insegurança de me ver envolvida em situação tão vexaminosa me
obrigou a pesquisar o nome do remetente da mensagem na Internet. Fiquei
aliviada. Um artigo do Alberto Dines referia-se a esta pessoa como um picareta,
que vive de pequenos golpes e expedientes. Ou seja, não era um delírio, não era
paranóia minha. Constatei o óbvio, não existe almoço grátis. Nem jantares. Mas,
convenhamos, em se tratando de jornalistas, é bem mais difícil de engolir.
*Rosana Hermann
é Mestre em Física Nuclear pela USP de formação, escriba de profissão,
humorista por vocação, blogueira por opção e, mediante pagamento, apresentadora
de televisão.
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