À
própria mercê
* Por Daniel
Santos
Para onde vamos, sabemos. E, a rigor,
não é esse o problema. O problema é que, logo, vão nos apontar como aqueles que
aboliram o futuro e sujeitaram seus descendentes a uma recorrência sem
derivações.
Foi à noite, parece, quando todos
dormiam. Houve um estalo, um estalo seco, sem ecos, e tudo começou a se mover.
O terreno, agora exíguo, à deriva em
alto mar, desprendeu-se do continente já bem distante.
Área demais pequena, só contém a
duração que, sem espaço para se conjugar, persevera no gerúndio. Parte de uma
margem, mas retorna quando chega à outra, sempre de costas para o passado e o
futuro.
Aqui, agora – o tempo para dentro.
Implosivo, desce às mais fundas cisternas, onde o arcaico aguarda para
contabilizarmos quantas camadas empilhamos, embora sem qualquer equilíbrio,
através das eras.
As alturas adensam em nuvens seu cenho
jurídico, tudo nos culpa e, cínicos, derrotados de autocrítica, a História nos
esquece. Enfim, à própria mercê! Mas sem Deus nem diabo, como faremos de agora
em diante?
* Jornalista
carioca. Trabalhou como repórter e redator nas sucursais de "O Estado de
São Paulo" e da "Folha de São Paulo", no Rio de Janeiro, além de
"O Globo". Publicou "A filha imperfeita" (poesia, 1995,
Editora Arte de Ler) e "Pássaros da mesma gaiola" (contos, 2002,
Editora Bruxedo). Com o romance "Ma negresse", ganhou da Biblioteca
Nacional uma bolsa para obras em fase de conclusão, em 2001.
Sem espaço, sem passado e sem futuro. Existimos?
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