quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Quando dezembro chegava


* Por Clóvis Campêlo

Para mim, dezembro sempre foi um mês especial.

Primeiro, por conta do meu aniversário, no começo do mês. As alegrias começavam aí.

Depois, vinham as férias escolares. A liberdade do final das aulas deixava em aberto a praia do Pina, as peladas, as pescarias, as incursões no areial do Aeroclube, em busca de passarinhos e barba-de-bode para construir as gaiolas.

Por falar em passarinhos, a casa onde morávamos ficava junto ao Grupo Escolar Landelino Rocha, com um vasto terreno repleto de pés de oitis da praia, onde os papacapins, canários e patativas, quando chegava o verão, procriavam em profusão. No verão, aliás, o nosso quintal se coloria de pássaros, em busca dos frutos das árvores plantadas pelo meu pai.

Dezembro trazia e traz, ainda hoje, a festa de Nossa Senhora da Conceição, que mesmo sem ser a padroeira do Recife é reverenciada com fervor pela cidade inteira. E lá íamos nós para o Morro da Conceição, em Casa Amarela, rezar aos pés da Santa e também curtir o lado profano da festa.

Essa tradição de reverência foi cultivada por dona Tereza, minha mãe, até o final da vida. Um ano, no dia 8 de dezembro, acordamos tarde e notamos a sua ausência. Saíra sem deixar nenhum recado e sem dizer para onde ia. Já se aproximava a hora do almoço e nada de notícias dela. Começávamos a ficar preocupados, quando vimos na televisão a imagem da festa no morro e quem aparecia em primeiro plano? Exatamente ela, dona Tereza, que tinha ido saldar o seu compromisso com a Santa.

Mas, dezembro também era a perspectiva da aproximação do Natal, com suas festas, presentes, comidas e comemorações, numa época em que os vizinhos ainda primavam por uma política do bom relacionamento e da consideração.

Dezembro também trazia os pastoris e os reisados, tradições culturais alimentadas e mantidas pelas camadas mais pobres da população. Embora na minha rua tivesse um palco onde se apresentava o Pastoril de “Seu” Nequinho, com o seu saxofone sempre em punho, gostava de enveredar pelas comunidades do Encanta Moça e do Bode em busca de outras alegrias e alegorias.

Era uma festa de cores, sons e alegrias que culminava, no final do mês, com a entrada do Ano Novo.

Só não era feliz quem não queria.

Recife, 2010

* Poeta, jornalista e radialista, blogs:


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