domingo, 16 de novembro de 2014

O importante poema sem importância


* Por Pedro J. Bondaczuk

O mais importante
são as coisas
ditas sem importância.

O par de sapatos furados,
a camisa fina
convidando o frio pungente,
a fome de milhões
na fartura de tantos
e desperdício de quem tem.

O amor secreto,
a dorzinha surda,
o jejum forçado,
a incoerência,
o passo sem ritmo,
gestos sem compasso,
saudade discreta,
soma de incertezas,
fantasmas calados,
bruxa traiçoeira,
cega e sem dente,
que esbarra na gente,
e a gente não sente,
mas cai, de repente,
no ostracismo, no passado.

O importante é o corriqueiro,
o extremamente comum,
o comezinho, o pseudo-rotineiro,
o áspero dia a dia.

Dessas pequenas coisas,
ditas sem importância,
construímos nossas vidas,
em geral comuns,
destituídas de brilho,
porém sumamente
IMPORTANTES:
definitivamente
originais e únicas.

* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos), “Cronos & Narciso” (crônicas), “Antologia” – maio de 1991 a maio de 1996. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 49 (edição comemorativa do 40º aniversário), página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio de 2001. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 53, página 54. Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk 



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