sábado, 22 de novembro de 2014

Querer é poder?


* Por Clóvis Campêlo

Querer não é poder, querer é saber!
Saber ter sossego, saber olhar,
saber cheirar, atar elos
e desatar nós.
O querer pode ser forte
mas também tem de ter
uma boa dose de sorte.
Sorte de estar no lugar certo,
na hora certa;
sorte de ter o desejo
possível e uma saudade
não patológica.
Enfim, ter um norte.
Querer é saber que o todo,
o tudo, os cabelos, a pele,
o mundo formam um só
corpo e como corpo
sólido que é, não pode
contraiar as leis da física
dos homens e ocupar
de outro corpo sólido
o mesmo lugar no espaço.
Finalmente, querer é saber
que tudo é possível
porque tudo se inventa.
E quando a gente se
contenta com a própria
invenção, independentemente
das convenções sociais ou dos
sentimentos de posse mesquinhos
o querer pode ser tão bom
e tão simples
como simples e bom
é o prazer de
querer e de ter.

Recife, 1994

* Poeta, jornalista e radialista, blogs:


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