sexta-feira, 21 de novembro de 2014

A saída genial

* Por Rodrigo Ramazzini


Eram seis horas da manhã. Estava tudo extremamente calmo na empresa naquele alvorecer de sexta-feira. Os funcionários trabalhavam em ritmo desacelerado. Não por falta do que fazer, e sim, por opção. Para se ter uma idéia, até o Alceu, ou o Seu Cê, como era conhecido, considerado empregado modelo, deixou-se “cativar” pela preguiça que pairava no ar.

Seu Cê trabalhava sozinho em uma sala, toda envidraçada, bem no meio do prédio da empresa. Sendo assim, todos os demais funcionários o enxergavam. Mesmo sabendo disso, e sem se importar muito com as possíveis conseqüências, ele resolveu, pois sentia uma estranha moleza no corpo, pela primeira vez na vida, tirar um breve cochilo no trabalho. Tirou o telefone do gancho e sentou-se na cadeira mais confortável que havia na sala. Ancorou os cotovelos em uma mesa, e escorado nas mãos, dormiu em questão de minutos.

Os demais funcionários vendo a “atitude” do Seu Cê, aderiram à idéia. Ajeitavam as suas “camas” caprichosamente quando ouviram alguns gritos. Era o Ávila, que trabalhava perto da porta, alertando desesperadamente – O “Homi” vem vindo! O “Homi” vem vindo!
O “Homi” referido era o chefe. Foi aquele rebuliço! Um corre-corre. Liga daqui, grita dali, recolhe-se coisa acolá, teve de tudo. Logo a notícia da presença do chefe àquela hora no recinto de trabalho espalhou-se. O chefe entrou na empresa com ar de imperador, nem bom dia deu. Adentrou já procurando algo errado. O que não tardou a acontecer. Esqueceram de avisar o Seu Cê.

O chefe visualizou de longe o Seu Cê naquela “situação”, grunhiu um – “An hã. Peguei!” E rumou a passos largos em direção à sala. Durante o trajeto, os demais funcionários ainda tentaram pará-lo, mas era tarde.

O chefe ingressou no recinto, e com o abrir nada delicado da porta, o Seu Cê acordou. Abriu os olhos, mas permaneceu na posição em que estava. Então, viu, por meio do reflexo dos vidros, a figura irada do chefe vindo em sua direção pelas costas. – “E agora?” – indagou-se. Fechou os olhos e respirou fundo. Uma idéia lhe surgiu.
- Bonito, Seu Alceu? Dormindo no trabalho, hein?

E Seu Cê, sem abalar-se com o berro dado ao seu lado, permaneceu imóvel, com os olhos fechados. Então, fazendo o sinal da cruz em si, proferiu – “Em nome do pai, do filho, do Espírito Santo, Amém!” Abriu os olhos e deu bom dia ao chefe.


* Jornalista e cronista
  

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