sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Todo mundo explica...


* Por Fernando Yanmar Narciso

Desde os fatídicos 7 X 1 sofridos pela seleção brasileira na copa do mundo passei a cultivar um hábito que, cria eu, nunca teria em minha vida: Acompanhar a versão pós-moderna dos cavaleiros do Rei Artur e sua távola redonda, os programas de futebol. É um verdadeiro choque que tenha me interessado por isso, considerando que desde pequeno eu fujo da bola como os políticos fogem da honestidade.

A derrota em solo pátrio me traumatizou de tal forma- assim como a qualquer torcedor do mundo- que me senti tentado a procurar saber mais sobre o caminho que nos conduziu a tamanha humilhação, assim a possível redenção da seleção brasileira não me pareceria uma vitória vazia. Como não torço por time nenhum, apesar de minha família torcer quase toda pelo Atlético Mineiro, posso analisar tais programas de forma isenta e fria.

A primeira coisa que aprendi: Ninguém entende mais do universo da bola que aqueles sujeitos. Se existe cão que chupa manga, eles se vêem provavelmente como a mangueira de onde a manga caiu ou como a cadela prenha de onde o cão saiu. São verdadeiros gênios da raça, sabem dizer com “absoluta clareza” o que há de errado com cada time do Brasileirão, da 1ª à 4ª divisão do campeonato- Juca Kfouri e Zé Trajano que o digam...

Quando o “Mineiratzen” aconteceu, não tardaram em sapatear sobre o cadáver, apontando as falhas mil envolvendo a seleção brasileira do Felipão. Um A ao Z de micos que iam da escalação ao treinamento físico e psicológico de nossos “guerreiros”. Segundo eles, absolutamente tudo o que vinha sendo feito desde a Copa das Tapeações ano passado estava, perdão pela palavra, cagado.

Em sua costumeira demonstração de vira-latice, vivem dizendo que o Brasileirão e a copa da UEFA disputam dois esportes diferentes, chegando quase ao ponto de construir santuários em honra ao Barcelona e ao Bayern de Munique, e espalham aos quatro ventos que não há um jogo dos campeonatos nacionais que não os mate de tédio. Ora, se para esses comentaristas “imparciais e honestos” tudo está errado, só podemos crer que os mesmos acham que o certo é o que eles pensam!

Por isso estão sentados à mesa, falando mal de times de futebol e posando de grandes entendidos. Os cavaleiros do Rei Artur sentavam-se à távola redonda para discutir a pauta do dia, mas depois saíam para realizar suas conquistas. Se esses caras são tão entendidos, por que não largam seus empregos na rede de TV e saem pra mudar as regras do jogo? Que se tornem dirigentes e participem das eleições dos times brasileiros!

Numa época em que jovens eleitores urgem por um respiro de ar fresco no mundo da política, não haverá quem não ouça aos ditos “Budas do gramado”. Vocês “têm” o know-how, podem tirar os clubes das garras da Rede Globo e da CBF e fazer com que tenham tratamento igualitário e digno. Podem trazer as glórias passadas do Brasileirão de volta e fazer com que emissoras estrangeiras deixem de usar nossos jogos como tapa-buraco de programação. Não podem?

Times endividados, jogadores saindo cedo demais do país, depredação de estádios, escândalos... Posso ter praticamente caído de pára-quedas no meio de um esporte com o qual nunca me importei, mas pelo pouco que pude observar desde a Copa do Mundo, já posso dar alguns palpites sobre o que há de errado no futebol brasileiro e como tantos tropeços acabaram culminando no vexame definitivo da tarde de nove de julho.

Os jogos da seleção expuseram um problema grave que foi ignorado por anos: Jogadores e técnicos brasileiros vivem com nervos abalados. Infelizmente, os problemas que nosso futebol enfrenta passam todos pelas mãos do torcedor... A torcida faz questão que seu time massacre, trucide o adversário, com um placar tão exagerado que os caras do outro lado do campo não tenham vontade de sair da cama por um mês.

Se ganhar por 1 X 0, o time foi covarde. E se o time perder, AI DELE! O que dizer de um estádio inteiro entoando a altos pulmões “Se o Corinthians não ganhar, olê olê olá, o pau vai quebrar”? A pressão é grande demais! Essa mentalidade de gangue, de hooligans, desabrilhantou o futebol brasileiro. A única coisa que importa agora é o resultado, que o time levante o caneco no fim do ano.

Futebol de qualidade é o de menos, e até os próprios jogadores às vezes se deixam levar por essa forma de pensar. Perdão pelo lugar comum, os fins justificam os meios. O time pode ter se saído bem num punhado de rodadas do Brasileirão, mas basta perder um único jogo para os “esportistas” de máscara e porrete em punhos quererem matar a torcida adversária, jogador, técnico, dirigente de clube, sobra até pro mascote.

Que é isso, gente? Nesse clima de baderna de Black Blocs, quem em sã consciência aceitaria um convite de ser treinador em qualquer clube brasileiro? Atualmente, ser técnico no Brasil é um triste fim, onde os contratos com clubes podem até valer por um ano, mas a pressão da torcida e da imprensa é tão doentia que muitas vezes, dependendo dos resultados, eles sequer têm tempo de implantar seu modus operandi nos times antes de serem demitidos.

Alguns deles nem chegam a ficarem seis meses no cargo. Não é como lá na Europa onde certas seleções mantêm o mesmo técnico por quase uma década, não há tempo para trabalhar nem segurança nessa profissão por aqui. Trabalhando em condições tão adversas, não há futebol-arte que sobreviva! Inegavelmente, viver da redonda virou um péssimo negócio no país dos canarinhos...

* Escritor e designer gráfico. Contatos:

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