Angu à moda de Dali
* Por
Marcelo Sguassábia
Ah, como foi flácido o
fluir dos flocos de nuvens pagãs, ficar de joelhos e estalar artelhos dentro da
redoma. Quis um cafuné despido de intenção para comer com pão no café da manhã.
Mas não estava são, como nunca estarei - apenas maldizia em régua derretida e
compasso de espera.
A cara metade a léguas
daqui. A cara metida em downloads de lá. Teimo rabiscando sem mãos a medir nem
pés a amparar, mesmo sabendo que nada restará exceto o jasmim de raras consoantes.
Brancas, fofas, sem serifas que machuquem. Caem flutuando no texto e deixam-se
ficar, sem mais o que fazer e dóceis de lidar.
Que nada, quimera, que
sina, pintassilgos de resina nessa piscina de esperanto. Regrido aos idos das
lascadas pedras, desvãos, lodos e escaninhos por toda a inadequada geografia.
Acesso de riso no acesso da estrada, recém-asfaltada com pasta de anis e raspas
de misericórdia.
É quando, de repente,
tudo passa a destoar de Dostoievski. Incensa e chora, lamenta e geme. À beira
do Sena, a chanson se esvai em acordes lácteos. Espana, gira em falso. Espanha,
falsos Mirós. Descem carradas de mouses de esgoto a farejarem rotos e a
soltarem arrotos sobre outros ratos. Entrementes, há mulheres lusas ainda muito
quentes, moídas por engano na bacalhoada. Uma soneca no vinco do teu jeans, sob
o embalo cômodo de Brothers in Arms. Sem mais delongas, estimo melhoras.
*
Marcelo Sguassábia é redator publicitário. Blogs: WWW.consoantesreticentes.blogspot.com (Crônicas e Contos) e WWW.letraeme.blogspot.com (portfólio).
Um angu digestivo e danado de difícil. Uma faceta que era desconhecida para mim. Relendo...
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