sábado, 13 de setembro de 2014

Primeiros passos da nova viagem

* Por Nei Duclós

Estes três poemas inauguram meu livro ainda inédito, Partimos de Manhã , que é dividido em três capítulos: Liberdade, resgate da viagem inaugural de um sonho compartilhado; Terra, a busca da identidade temporariamente perdida; e Paz, um canto em homenagem ao sacrifício da boa vontade em confronto com a barbárie. O livro foi enviado, a pedido, para uma editora e aguarda a decisão há mais de um ano.   


PARTIMOS DE MANHÃ

Partimos de manhã
quando a lua, sol
noturno, jogava sal
sobre a neblina

O passo trazia
a luz pelo punho
A surda cidade
recompunha-se

A rua recolhia
o lixo da fuga
A ponte puxava
a dor para o abismo

O lábio da bruma
espumava na mansa
loucura. A estrada
prometia o rumo

O frio tocava sino
O sangue emboscava
o medo. A infância
fazia um filho

O susto virava sorte
O destino abria um túnel
A mochila dava adeus
ao exílio

LETRA

Talvez
escrevendo
alguma coisa amanheça

Talvez
o poema
desperte o pássaro

Talvez
a palavra
te incendeie

Talvez
a sílaba
grite

Talvez
a letra
crua

Talvez
soletrando
amor
a noite se despeça

NA MADRUGADA

No primeiro vento
o tempo cobriu
o espelho

O raio comeu
a cama do som
noturno

O mistério calou
teu corpo ainda
úmido

O amor gelou
a parte mais funda
do forro

Ouvimos um baque
no escuro. Uma estrela
pediu socorro

* Autor de livros de poesia, entre os quais: “Outubro” (1975), “No meio da rua” (1979) e “No mar, Veremos” (2001); e de um romance: “Universo Baldio” (2004). Jornalista desde 1970 e bacharel em História. Trabalha em Florianópolis como editor-executivo de duas revistas.



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