Primeiros passos da nova
viagem
* Por Nei Duclós
Estes três poemas inauguram meu
livro ainda inédito, Partimos de Manhã
, que é dividido em três capítulos: Liberdade,
resgate da viagem inaugural de um sonho compartilhado; Terra, a busca da identidade temporariamente perdida; e Paz, um canto em homenagem ao sacrifício
da boa vontade em confronto com a barbárie. O livro foi enviado, a pedido, para
uma editora e aguarda a decisão há mais de um ano.
PARTIMOS DE MANHÃ
Partimos de manhã
quando a lua, sol
noturno, jogava sal
sobre a neblina
O passo trazia
a luz pelo punho
A surda cidade
recompunha-se
A rua recolhia
o lixo da fuga
A ponte puxava
a dor para o abismo
O lábio da bruma
espumava na mansa
loucura. A estrada
prometia o rumo
O frio tocava sino
O sangue emboscava
o medo. A infância
fazia um filho
O susto virava sorte
O destino abria um túnel
A mochila dava adeus
ao exílio
LETRA
Talvez
escrevendo
alguma coisa amanheça
Talvez
o poema
desperte o pássaro
Talvez
a palavra
te incendeie
Talvez
a sílaba
grite
Talvez
a letra
crua
Talvez
soletrando
amor
a noite se despeça
NA MADRUGADA
No primeiro vento
o tempo cobriu
o espelho
O raio comeu
a cama do som
noturno
O mistério calou
teu corpo ainda
úmido
O amor gelou
a parte mais funda
do forro
Ouvimos um baque
no escuro. Uma estrela
pediu socorro
* Autor de livros de poesia, entre os quais: “Outubro” (1975), “No meio
da rua” (1979) e “No mar, Veremos” (2001); e de um romance: “Universo Baldio”
(2004). Jornalista desde 1970 e bacharel em História. Trabalha em Florianópolis
como editor-executivo de duas revistas.
O livro foi publicado em 2012 pelo IEL/Corag
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