sexta-feira, 5 de julho de 2013

Do Real ao Surreal

Pílulas literárias 173

* Por Eduardo Oliveira Freire

ALFREDO

Nos seus tempos vagos, reproduzia quadros famosos. Tinha um que gostava bastante: Monalisa. Lembrava-se de sua mãe dizer, quando observavam o quadro: “ Você tem o mesmo riso cínico.”

Colocou-o na sala para observar a família, que ficavam abismados de como Alfredo sabia de tudo que acontecia: As traições da mulher e a má educação dos filhos.

Loucos de raiva, porque ele cortou os cartões de crédito, rasgaram o sorriso da réplica da Monalisa e se assustaram com tanto sangue que saía da boca.

Do outro lado da cidade, no trabalho, Alfredo sentiu uma dilacerante dor na boca.

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DESENCANTO

Ao mexer no quarto de minha patroa, que acabara de morrer, encontrei uma foto de um homem com a dedicatória: “ Para sempre se lembrar de mim, B.”. Não era o patrão.

A imagem do casal velhinho e fofo se maculou em mim. Senti um profundo desencanto.

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FOME

Quero devorar a vida, mas é ela quem me devora com sua bocarra.

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O INTRUSO

Chego. Ele está na casa e finjo que não vejo. Olha-me fixamente e assisto tevê como se nada estivesse acontecendo. Continua a me olhar. O telefone toca, é um amigo. Digo que o “intruso” está na casa. Ele diz que preciso tomar uma decisão. Não consigo e coloco o telefone no gancho. Mesmo assistindo horas a tevê, continuo a ser observado. Desisto! Vou deixá-lo entrar na minha vida. Vou à cozinha e jogo um pedaço de queijo. O rato aparece e pega o naco rapidamente.

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PÔXA VIDA!

- Sempre guardei a foto de minha avó querida. Quando estava triste, tirava-a da carteira e uma sensação de paz me aliviava. Sentia que a vovó estava comigo a todo tempo, cuidando de mim. Um dia, esqueci minha carteira no sofá e minha sobrinha pentelha foi bisbilhotar. Aí, aconteceu a confusão: Todos me xingaram e não entedia direito o que acontecia. Acusaram-me de ter matado a vovó, que tinha desaparecido há anos. Fui preso e estou aqui, sozinho. A foto da vovó não está mais comigo e ela estava tão linda sem cabeça.

* Eduardo Oliveira Freire é formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense, com Pós Graduação em Jornalismo Cultural na Estácio de Sá e é aspirante a escritor


Um comentário:

  1. As estranhas histórias estão se tornando a cada dia mais fantásticas e mórbidas.

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