Pílulas literárias 173
* Por
Eduardo Oliveira Freire
ALFREDO
Nos seus tempos vagos, reproduzia quadros famosos. Tinha um que gostava
bastante: Monalisa. Lembrava-se de sua mãe dizer, quando observavam o quadro: “
Você tem o mesmo riso cínico.”
Colocou-o na sala para observar a família, que ficavam abismados de como
Alfredo sabia de tudo que acontecia: As traições da mulher e a má educação dos
filhos.
Loucos de raiva, porque ele cortou os cartões de crédito, rasgaram o
sorriso da réplica da Monalisa e se assustaram com tanto sangue que saía da
boca.
Do outro lado da cidade, no trabalho, Alfredo sentiu uma dilacerante dor
na boca.
@@@
DESENCANTO
Ao
mexer no quarto de minha patroa, que acabara de morrer, encontrei uma foto de
um homem com a dedicatória: “ Para sempre se lembrar de mim, B.”. Não
era o patrão.
A
imagem do casal velhinho e fofo se maculou em mim. Senti um profundo
desencanto.
@@@
FOME
Quero devorar a vida, mas é ela quem me devora com sua bocarra.
@@@
O INTRUSO
Chego. Ele está na casa e finjo que não vejo. Olha-me fixamente e assisto
tevê como se nada estivesse acontecendo. Continua a me olhar. O telefone toca,
é um amigo. Digo que o “intruso” está na casa. Ele diz que preciso tomar uma
decisão. Não consigo e coloco o telefone no gancho. Mesmo assistindo horas a
tevê, continuo a ser observado. Desisto! Vou deixá-lo entrar na minha vida. Vou
à cozinha e jogo um pedaço de queijo. O rato aparece e pega o naco rapidamente.
@@@
PÔXA VIDA!
- Sempre guardei a foto de minha avó querida. Quando estava triste,
tirava-a da carteira e uma sensação de paz me aliviava. Sentia que a vovó
estava comigo a todo tempo, cuidando de mim. Um dia, esqueci minha carteira no
sofá e minha sobrinha pentelha foi bisbilhotar. Aí, aconteceu a confusão: Todos
me xingaram e não entedia direito o que acontecia. Acusaram-me de ter matado a
vovó, que tinha desaparecido há anos. Fui preso e estou aqui, sozinho. A foto
da vovó não está mais comigo e ela estava tão linda sem cabeça.
* Eduardo Oliveira
Freire é formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense,
com Pós Graduação em Jornalismo Cultural na Estácio de Sá e é aspirante a
escritor
As estranhas histórias estão se tornando a cada dia mais fantásticas e mórbidas.
ResponderExcluir