Pausa para subir
* Por
Evelyne Furtado
Olhos
no mar, pernas desgovernadas e coração na boca. Lembro da liberdade e da
euforia que me acompanhavam morro abaixo na praia de minha infância.
Era
a melhor hora do dia. Ao pé da duna a queda era previsível e a areia que me
cobria o corpo inteiro ia embora nos mergulhos quase infindáveis que terminavam
com o chamado insistente de minha mãe.
Haja
esforço para subir o monte de areia escaldante, mas fazia parte da farra e eu
chegava em casa com o apetite dobrado. Depois do banho para tirar o sal,
desfrutava almoço e sobremesa sem contar calorias.
Hoje
o morro do qual falo virou hotel onde a recepção é no andar de cima.
Apartamentos, auditórios e área de lazer localizam-se nos pisos inferiores.
O
mar continua no mesmo lugar, mas de certa forma aquela construção bonita dá-me
a impressão de ver o mundo de cabeça para baixo.
O
progresso mudou tudo por lá. O tempo agiu em mim. Todos os dias crescem degraus
na minha praia e na minha vida.
Alguns,
alcanço com o fôlego da menina de antes, outros me parecem íngremes demais para
subir e ainda há aqueles não me inspiram segurança.
É
preciso avançar. Daqui a pouco estarei um degrau acima, mas quero uma pausa
aqui onde estou. Tomarei uma água de coco enquanto esqueço meus olhos no mar.
*
Poetisa e cronista de Natal/RN
O mar já é uma maravilha, mas quando entra pelos seus olhos e sai como palavras fica celestial. Dá uma saudade grande até daquilo que nunca vivi, que foi morar a beira-mar. Vontade de chorar, e de fato choro.
ResponderExcluir