* Por Leonardo Dantas Silva
Das secas que assolaram o Nordeste do Brasil no século XX, foi a de 1932 a mais causticante segundo autores que escreveram sobre esse fenômeno.
Dela surge a história de Maria do Ingá, uma bela morena, queimada do sol, trazendo no rosto um par de olhos tão belos que logo fascinou o fotógrafo Jean Manzon (1915-1990), quando da publicação de suas fotografias na revista O Cruzeiro.
Tratava-se da retirante Maria do Ingá, retirante originária do município paraibano de Ingá do Bacamarte (1840), nas proximidades de Campina Grande, que fugindo da seca despertava os comentários da população de Pombal e de todos os homens por onde passava.
A reportagem da revista O Cruzeiro logo chamou a atenção do país inteiro para a beleza trigueira daquela morena que, pela força do destino, veio servir de inspiração para dois dos mais importantes personagens da Música Popular Brasileira: o poeta Olegário Mariano (1889-1958) e pianista Joubert de Carvalho (1900-1977).
Joubert, médico, pretendendo uma colocação no Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos, fora aconselhado pelo paraibano Rui Carneiro a ter uma aproximação com o então ministro da Viação, o também paraibano José Américo de Almeida (o homem forte do Governo de Getúlio Vargas), usando para isso o episódio que marcara a figura de Maria do Ingá.
Procurando o poeta pernambucano Olegário Mariano, de quem já havia musicado alguns dos seus poemas em 1928, este logo veio em seu socorro, tomando por inspiração a história d’ “a retirante que mais dava o que falar”, e assim surgiu a letra da canção Maringá:
"Foi numa leva
Que a cabocla Maringá
Ficou sendo a retirante
Que mais dava o que falar
E junto dela
Veio alguém que suplicou
Pra que nunca se esquecesse
De um caboclo que ficou
Maringá! Maringá!
Depois que tu partiste
Tudo aqui ficou tão triste
Que eu garrei a imaginar
Maringá! Maringá!
Para haver felicidade
É preciso que a saudade
Vá bater noutro lugar
Maringá! Maringá!
Volta aqui pro meu sertão
Pra de novo o coração
De um caboclo assossegar
Antigamente uma alegria sem igual
Dominava aquela gente da cidade de Pombal
Mas veio a seca, toda chuva foi-se embora
Só restando então as água
Dos meus olhos quando chora
Maringá… Maringá
Maringá… Maringá
Maringá, Maringá
Volta aqui pro meu sertão
Pra de novo o coração
De um caboclo assossegar."
José Américo de Almeida gostou dos versos e da melodia da canção Maringá, logo gravada na voz de Gastão Formenti (transformada em sucesso por Carlos Galhardo), e o pianista Joubert de Carvalho assim conquistou uma nomeação de médico no Instituto dos Marítimos.
Mas o que a dupla Olegário Mariano e Joubert de Carvalho não contava era o fato que Maringá viria a ser nome de uma nova cidade em construção no Paraná: Em 1947 Elizabeth Thomas, esposa do presidente da Cia. Melhoramentos do Norte do Paraná, sugeriu que se desse à nova cidade o nome de Maringá.
Logo Maringá se tornou uma das mais prósperas cidades do Paraná; a terceira cidade daquele estado e a sétima mais populosa da região do sul do Brasil (362.329 habitantes).
O paulista de Uberaba, Joubert Carvalho, compôs mais de 200 músicas, dentre as quais Tahí, também conhecida por Pra você gostar de mim (gravada por Carmem Miranda, 1930), com sua vendagem superando a mais de 30 mil discos no seu lançamento. Foi ele parceiro constante do pernambucano Olegário Mariano, tendo musicado, além de Maringá, as canções Tutu Marambá, Cai cai balão, De papo prô ar, Zíngara, Felicidade e muitas outras.
Mas o grande êxito da dupla foi mesmo a canção Maringá que fez sucesso também no exterior, rendendo direitos autorais a Joubert até a data do seu falecimento em 20 de setembro de 1977.
• Jornalista e escritor do Recife/PE
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