terça-feira, 18 de dezembro de 2012

A Po-ética da Psicanálise.

Um diálogo com a arte.

* Por Evelyne Furtado

“E aquele que não morou nunca
Em seus abismos ... Não foi marcado.
Não será expostos às fraquezas,
Ao desalento, ao amor , ao poema”
Manoel de Barros

A psicanálise conversa com arte desde seu nascimento. Sigmund Freud, seu criador, sorveu e serviu-se da poesia, do teatro e das artes plásticas na construção de sua teoria. Sófocles, Shakespeare, Da Vinci, Michelangelo e Goethe, entre outros, inspiraram, ilustraram e embasaram sua criação.

Freud afirmou que “onde quer que eu vá eu descubro um poeta esteve lá antes de mim”. Foi ele, também, um poeta ao se guiar pela intuição - matéria prima do poeta – ao materializar a teoria que revolucionou o pensamento ocidental no século XX.

Freud deu um destaque especial ao amor, tema maior dos poetas, concluindo que é preciso amar para não adoecer. Mas foi além ao prever que há amores impossíveis de se realizar e que, portanto, esses amores provocariam a doença quando impedidos. Então vislumbrou a sublimação como outra via de não adoecimento.

Sublimar, segundo Freud, é dirigir a pulsão sexual para outro objeto. Em O Mal – Estar na Civilização ele fala sobre a alegria do artista, que através do trabalho psíquico e intelectual, eleva suficientemente o ganho do prazer ao desviar a libido produzindo arte.

A Psicanálise e a arte continuam entrelaçadas. Hoje incluímos o cinema nesse namoro. A sétima arte mergulha no inconsciente e devolve aos amantes da psicanálise farto material para debate e aprofundamento.

Ao falar em amor falo em desejo, pois amor realizado pressupõe confluência de desejos. Conhecemos a felicidade quando os desejos completam-se. Enfrentamos desprazer quando os desejos não se encontram.

Pois bem, ame e seja amado. Se houver impedimento tente sublimar fazendo arte. Chore pitangas em verso e prosa. Faça uma escultura. Cante, dance e sapateie. Pinte e borde. Fotografe ou faça um curta metragem.

Ame ou sublime. De preferência, ame. Porém, se não for possível amar, nem sublimar, respeite o desejo do outro. Afinal, a ética foi criada para possibilitar a paz na ausência do amor.

* Poetisa e cronista de Natal/RN

Um comentário:

  1. A sua crônica casou à perfeição ao momento que estou vivendo. Ilustrou, convenceu, comoveu e tirou alento. O lugar onde estou não vai me levar a lugar nenhum.

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