domingo, 30 de dezembro de 2012

Renovação das ilusões

* Por Pedro J. Bondaczuk

Os nossos sentidos, via de regra, nos enganam. Não raro (ou quase sempre), o que nos parece a mais concreta realidade, visível e palpável, não passa de ilusão. Mas se nos alertam a respeito, quase nunca acreditamos. Julgamo-nos sumamente bem-informados apenas porque lemos, assiduamente, jornais e revistas, ouvimos, no rádio do nosso carro, todos os noticiários; assistimos, atentamente, todos programas noticiosos de TV e, por isso (só por isso?), nos consideramos práticos, “realistas”, “pés no chão”. Será que somos de fato?

Nossos órgãos sensoriais, por mais úteis e eficientes que sejam, não captam, com exatidão, o que acontece ao nosso redor. Longe de nós, então... Iludimo-nos o tempo todo e não nos damos conta. Nossos sentidos não nos mostram, sequer, o que acontece conosco, no interior do nosso corpo.

Raramente, por exemplo, notamos, no dia-a-dia, a passagem do tempo que, no entanto, não cessa de se escoar. Subitamente, quando nos damos conta, já envelhecemos e não notamos que esse processo se deu não de repente, como chegamos a achar, mas aos poucos, em nosso cotidiano. Quando jovens, temos a ilusão de que permaneceremos sempre assim. Em nossa mente, só os outros envelhecem, nós não. Claro que as coisas não ocorrem dessa maneira, embora, em nosso íntimo, achemos que sim. Ou, pelo menos, nos comportemos dessa maneira.

Nutrimos ilusões e mais ilusões, o tempo todo, a vida inteira e não vejo problema algum nisso. Claro que, como tudo o que pensamos (e fazemos), se requer moderação também no ato de se iludir (ou deixar que fatos e pessoas nos iludam). Não podemos descambar, por exemplo, para o extremo, para a completa alienação, sob pena de, se o fizermos... Será, fatalmente, caso de internação num manicômio! Ou não? O que é a loucura senão a absoluta ilusão, o total desligamento da realidade?

Todos, certamente, no transcurso de mais este ano (que se encerra), nos desiludimos com algo ou alguém, por algum motivo, real ou imaginário, não importa. Uns, tiveram desilusões nos negócios. Outros, no amor. Outros, ainda, nas amizades e assim por diante.

Os mais fortes, mentalmente, substituíram as ilusões perdidas por outras, mais consistentes. Os práticos, após essas quedas, levantaram-se, sacudiram a poeira e deram a volta por cima, conforme diz a letra daquele samba do Paulo Vanzolim. Os tíbios, porém... Sentiram o mundo desabar sobre suas cabeças!

O escritor francês, Guy de Maupassant, constatou, não sem razão: “Choram-se às vezes as ilusões com tanta mágoa, como se choram os mortos”. Quem se desiludiu com uma pessoa amada, a quem julgava o suprassumo da perfeição e um dia descobriu que ela não passava de fraude, de engodo e não era nada disso e que, ademais, não lhe correspondia e o traía a todo o momento, sabe o quanto isso é verdadeiro.

E daí? É motivo para abrir mão da vida e da busca da felicidade? Claro que não! Era uma ilusão? É evidente que sim! Só por isso, a atitude mais realista é não amar mais ninguém? Claro que não! A pessoa equilibrada forjará mais uma, duas, dez, mil ilusões a respeito se for preciso e, certamente, voltará a se desiludir o mesmo tanto. E daí? Assim é a vida! Mas que dói..., não há dúvidas.

Marguerite Duras foi ainda mais longe e assegurou (provavelmente, por experiência própria): “Há ilusões que se parecem com a luz do dia: quando acabam, tudo com elas desapareceu”. E daí? É motivo para se dar por vencido? Reagir dessa forma não é sintoma de extrema fraqueza? Afinal, a vida é feita de ganhos e perdas, concretos ou ilusórios, não importa. E você, caro leitor, o que acha disso?

Marcel Proust, em um dos volumes do seu “Em busca do tempo perdido” (não me lembro qual deles), afirmou o seguinte sobre as ilusões: “Teoricamente sabemos que a Terra gira, mas nós não percebemos: o solo que pisamos não parece mexer-se e vivemos tranqüilos; o mesmo acontece com o tempo de nossa vida”. E não é o que acontece? Não temos a sensação da fixidez do Planeta, quando, na verdade, ele gira com incrível velocidade? E não nos entregamos, não raro, a tarefas inúteis, a pretexto de “passar o tempo”, quando, em verdade, este não cessa de se escoar, segundo a segundo?

William Shakespeare escreveu, em uma de suas peças: "A vida do homem é uma trama tecida de bons e maus fios". Confiemos no lado positivo das pessoas (principalmente no nosso) e não nos omitamos jamais, mesmo que os objetivos que perseguirmos se mostrarem ilusórios. A cada desilusão, criemos nova ilusão, mais próxima da realidade, mas não nos omitamos da vida.

Não deixemos de dar a nossa constante e permanente contribuição positiva para mudar o panorama sombrio que aí está, mas que não é irreversível. Façamos do novo ano um dos melhores e mais vitoriosos anos de nossas vidas. Apostemos nessa ilusão, vale a pena. Nós queremos isso! Nós podemos e, portanto, temos plenas condições de transformar esse mero potencial em realidade.

Transformemos nossas esperanças em certezas, agindo com competência e responsabilidade. Façamos dos nossos sonhos obras consistentes e concretas. Não nos envergonhemos de acalentar radiosas utopias. Transformemos nossas ilusões em realidades. Com esforço, talento e competência, faremos do novo ano que está às portas um período de contínuo e ininterrupto sucesso, estou seguro, com a inspiração e a ajuda de Deus!.

* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk

Um comentário:

  1. Bem interessante essa explicação de transformar as decepções em novas ilusões. É a explicação exata da vida humana, que depois de cada perda, acha forças (acha outra ilusão), para conseguir continuar vivendo.

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