quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

São os outros que me preocupam

* Por Fernando Yanmar Narciso

Aparência é tudo. Não há um só dia que passemos ao lado de nosso vizinho sem pensar “Por que eu não posso ter uma vida igual à dele, um carro igual ao dele, uma casa de dois andares igual à dele?”, ao passo que ele está pensando a mesma coisa de mim, de você e de todos ao redor dele. Todos vivem em função uns dos outros, e quem diz que não dá a mínima para a opinião alheia, está mentindo.

É muito difícil encontrar pessoas gordas numa academia, quando muito são arrastadas pelos personal trainers. Tá maluca, treinadora? Eu, indo malhar? Vai que alguém me vê assim, gorda, horrorosa? O que podem falar de mim? Quem é freqüentador assíduo da musculação sequer pensa em saúde. O magricela chega à academia, vê todos aqueles pôsteres de Stallone e Schwarzenegger nas paredes e logo se imagina com aqueles bíceps monumentais e aquele muro de pedra no abdome. Logo imagina também os espertinhos morrendo de medo e todas as menininhas dando em cima dele, que é o que realmente importa para os marombeiros heterossexuais.

Que tipo de pessoa precisa comprar um carro de mais de R$ 40.000,00? Nas vagas por aí mal dá pra estacionar um Uno ou uma moto, então por que o magnata compraria um Ford Fusion, cujo porta-malas comportaria facilmente um Uno? Porque ele pode, é lógico! Mas ele não compra um carro de 87.000 porque precisa dele, mas só para tirar onda. Ele precisa ouvir os gracejos na praça, as cantadas das piriguetes, que os marmanjos e os moleques apontem o dedo para ele e suspirem de inveja. Engasguem com meu sucesso, favelados!

São muito poucos os que correm atrás de cursos universitários pelo orgulho da profissão que escolheram. Não digo que seja a maioria, mas boa parte dos que escolhem exercer engenharia, direito ou medicina- os eternos favoritos- o fazem unicamente pelo status que as profissões lhes dão. O fato de só andar de terno e maleta em punho, ou jaleco branco com um estetoscópio no pescoço parece nos colocar no topo da cadeia alimentar. Alguns médicos são esnobes ao extremo e tratam os pacientes como carne de açougue simplesmente por serem médicos. A carteirinha do CRM também parece lhes dar o direito de fazerem qualquer coisa que quiserem. Me respeite, eu sou médico! Sua vida está em minhas mãos!

A grande inveja que aflige 20 de cada 10 homens é a inveja do pênis. Dá um enorme desespero imaginar a mulher achando graça do tamanho de sua ferramenta e espalhando para as amigas. Depois de tantos séculos, permanece firme e forte a idéia de que quanto mais ajumentado o homem for, mais poder ele exercerá sobre os demais, e mais orgasmos as mulheres terão. Sidney Sheldon parecia dominar esse conceito com maestria, pois quase todos os seus heróis eram galãs importantes com uma árvore entre as pernas. Porém, a menos que a parceira sofra da Síndrome da Vagina Cavernosa, o membro não precisa ter mais de 15 centímetros para trazer prazer à mulher. Afinal, de que adianta ser o dono de uma limusine se na garagem só cabe Fusca? Há, inclusive, muitos casos de mulheres que morreram no ato sexual porque o parceiro tinha um membro que mais parecia um cabo de enxada.

Quer época melhor para exercer a inveja e a cobiça que o mês de dezembro? É o único mês que eleva a ganância ao posto de centro das atenções. Você olha para aquelas decorações natalinas maravilhosas, enormes e imponentes nas vitrines e nas casas dos parentes, se lembra daquele pinheirinho patético que armou em casa e pensa que nem o carteiro vai ter vontade de te visitar. Dá vontade de se enforcar com a guirlanda de balas... A gente entra nos supermercados e nos shopping centers e se vê diante de uma verdadeira competição, para ver quem consegue comprar a ceia e os presentes mais megalomaníacos que puderem encontrar. Gastem bastante, assim provarão seu amor pela sua família, que você normalmente não quer ver nem em pintura, e depois veja os pirralhos provocando uns aos outros com o presente caríssimo na mão. Eu tenho, você não te- em! Eu tenho, você não te- em!

Se há pelo menos uma pessoa que não dá a mínima para status, esse alguém é meu pai. Um dos engenheiros mais competentes e respeitados da cidade, ele faz questão de andar pra cima e pra baixo em seu bom e velho Passat 87, mesmo tendo um Fiat Linea novinho na garagem, e não raro recebe clientes para fechar negócio vestido mais ou menos como o Seu Madruga. Ele já se cansou de levar “pitos” da mulher e dos colegas de trabalho por causa das aparências. Você tem que se fazer respeitar, homem! Tem um Linea na garagem? Larga essa porcaria desse Passat velho em casa e só vem trabalhar no Linea! E faz o favor de comprar um terno, porque engenheiro só é respeitado se usar terno! Claro que ele não dá a mínima pra essas coisas, mas por precaução, só recebe os clientes mais importantes com seu Rolex folheado a ouro no pulso. É uma réplica, mas eles não precisam saber disso... Ops!

Feliz natal pra todo mundo e um grande e produtivo ano novo!

Vejo vocês ano que vem! Se o apocalipse deixar...


*Designer e escritor. Site: HTTP://terradeexcluidos.blogspot.com.br

Um comentário:

  1. Está pesado seu texto. Tema central: inveja. Espero que não se enquadre em nenhum dos exemplos dados.

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