sexta-feira, 21 de setembro de 2018

O Português - Agustina Bessa Luís


O Português


* Por Agustina Bessa-Luís


O português prefere ser um rico desconhecido, a ser um herói pobre. É melhor do que parece. O homem português é dissimulado, e fez da inveja um discurso do bom senso e dos direitos humanos.

Mas é também um homem de paixões moderadas pela sensibilidade, o que faz dele um grande civilizado. 


Gosta das mulheres, o que explica o estado de dependência em que as pretende manter. A dependência é uma motivação erótica.

É inovador mas tem pouco caráter, como é próprio dos superiormente inteligentes, tanto cientistas, como filósofos e criadores em geral.

Mente muito, e a verdade que se arroga é uma culpa inibida. Vemos que ele se mantém num estado primitivo quando defende a sua área de partido, de seita e de família, à custa de corrupções e de crimes, se for preciso. 


Gosta do poder mas não da notoriedade. Não tem o sentido da eternidade, mas sim o prazer da liberdade imediata. Não é democrata; exceto se isso intimidar os seus adversários.

Não tem gênio, tem habilidade.

É imaginativo mas não pensador.

É culto mas não experiente.

Não gosta da lei, porque ela desvaloriza a sua própria iniciativa. É místico com a fábula e viril com a desgraça. 


Admira mais a Deus do que tem fé Nele.


(In 'Caderno de Significados')


* Nome literário de Maria Agustina Ferreira Teixeira Bessa é uma escritora portuguesa..

Nenhum comentário:

Postar um comentário