quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Cavala - Ademir Assunção


Cavala


* Por Ademir Assunção


     
para antonio risério
e maria angélica abramo

lá, onde os dedos são grossos galhos
percutindo o couro dos animais
& as palavras dissolvem-se no ar
antes
de vestirem a couraça dos significados

lá, onde sóis azuis
luzem a noite inteira

lábios sorvem o suor
sede de saliva — a espada
rompe o espelho

o sangue ferve, febre
vapor quente nas narinas

— possuída, ela convoca éguas
luas & golfinhos

cascos tinem
um estranho batuque

ranhuras na pele — unhas
de lontra
cravadas nas costas

rainha dos raios
a xota risca fogo
nas savanas

***

assim é
o amor da cavala
riscos
rasuras
talhos de gilete

tratados com pétalas
de lírios selvagens

* Poeta e jornalista.


Nenhum comentário:

Postar um comentário