sábado, 22 de setembro de 2018

Inesquecível experiência de um spa - Aliene Coutinho


Inesquecível experiência de um spa


* Por Aliene Coutinho


Isabel arrumou as malas. Pouca coisa. Era só uma semana num spa. Roupas para malhar, biquíni, pijama, agasalho. Rosa e Ana iam pegá-la em casa. Ela nem precisava emagrecer, mas estava animada por ficar alguns dias com as amigas e longe de tudo. Foi, cheia de gás. No carro, as três antecipavam o que estava por vir. No mínimo ia ser divertido.

De cara, gostaram do lugar. Cheio de árvores, instalações luxuosas, quartos bem mobiliados para duas pessoas, no sorteio, acabou sozinha. Tudo bem estavam lado a lado e por que não ficar sozinha? Tudo parecia seguro, tranqüilo. Chegaram no fim da tarde, fizeram o check-in e logo em seguida foram chamadas para um chá de recepção. Tudo light. As regras foram ditas, entre elas, horário de acordar e das atividades, e nada de comida escondida nas malas. De casa, só roupas e no máximo cigarros. Beleza!

Às sete da manhã bateram em sua porta, uma mensagem de estímulo jogada embaixo da porta e a ordem para estar no refeitório em meia hora. Hora do café! Na mesa, as três entreolharam-se: nada de pão, queijo branco, frutas, só um copo pequeno com suco puro de limão. Todo mundo tomou sem reclamar. Depois, outra ordem: trocar de roupa para uma caminhada de quatro quilômetros. Deve ser assim, mesmo, faz parte do regime. Imaginaram.

Na volta, podres de cansadas e de sede, viram na porta do refeitório uma mesa repleta de sucos das mais diferentes frutas. Agora sim, deve ser o café da manhã. E mais uma vez ficaram na vontade. Era só isso mesmo. E só podia repetir o suco de melancia. Cada uma tomou seu copo e quando pensavam que iam ter uma pequena trégua, lá vieram os monitores chamarem para hidroginástica com direito a tomar banho de lama medicinal depois. Chiquérrimo!

Hora do almoço. Suco, desta vez com uma opção: água de coco. Só isso. Duas horas de repouso até a sessão de massagem, em seguida sauna, e para fechar o dia mais uma caminhada. No jantar, tão esperado, mais suco. E na ceia: leite desnatado. Elas tentavam agüentar firme, assim como todas as mulheres que estavam ali. Gordas, outras nem tanto, de todas as idades e algumas há quase 15 dias nesse regime de fome. Tudo em nome da beleza, ou da desintoxicação do dia-a-dia.

No terceiro dia, no meio de um jogo de buraco no quarto das amigas, Isabel surtou. Jogou as cartas para cima e começou a gritar que queria uma picanha com queijo e fritas. Ficou histérica. As amigas chamaram as enfermeiras. Socorrida, recebeu para controlar a pressão um prato de tomate com sal. Grande Isabel! A partir daí foi uma farra. A cada troca de plantão da enfermagem, elas “passavam mal” para poder mastigar aquela “apetitosa” refeição que servia, além de tudo, para tapar o oco da barriga que insistia em roncar cada vez mais assustadoramente.

E assim, elas chegaram ao fim do tratamento. Magras, esbeltas, com camisetas e calças frouxas e a certeza: que iam parar no primeiro restaurante e pedir tudo que houvesse, inclusive sobremesa. Nunca sentiram tanta falta de uma folha de alface e de um franguinho grelhado. Na saída, olharam para trás e se despediram para sempre daquele lugar que foi fechado pela saúde pública meses depois.

* Jornalista, professora de Telejornalismo do Instituto de Ensino Superior de Brasília – IESB.







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