sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Autossuperação - Bartyra Soares


Autossuperação


* Por Bartyra Soares


Vêm de longe, de muito longe, o preconceito, o tabu, a descrença na capacidade criativa e de realização dos deficientes físicos, mentais e sensoriais. Daí, desde há muito existir a dificuldade da inserção desses seres no ambiente de trabalho e na vida pública, social e econômica de seus países.

Não se faz necessário ir muito distante no tempo para se verificar a mais legítima constatação do fato. Durante a
Segunda Guerra, sob o insano comando de Hitler, os registros confirmam que havia um programa nazista de extermínio – T4 – Eutanásia ou solução final. Tratava-se de uma camuflagem para suprimir a vida dos deficientes.

Semelhantes assassinatos, isolados ou em massa, ainda acontecem em determinadas culturas e situações, não importando as falsas e distorcidas proposições apresentadas e defendidas pelos adeptos dessas atrocidades. Para eles, o válido é não permitir que esses seres humanos fujam da condenação de um destino inescapável.

Nos esportes, no entanto, a partir de 1960, em Roma, quando se realizou a primeira Paralimpíada, vem se observando transformação compensadora e reconhecimento da capacidade de autossuperação de tantos desportistas portadores de necessidades especiais.

Na Paralimpíada de 2000, em Sidney, como não se lembrar da recifense Rosinha, recordista mundial de arremesso de peso e de lançamento de disco? Aos 14 anos, sofreu a amputação de uma das pernas. Transformadas por ela a dor e a perda em força e tenacidade, conheceu a alegria que só os campeões sentem ao ter nas mãos o peso de duas medalhas de ouro.

Quatro anos depois, em Atenas, asseverou: “Se a deficiência não tivesse acontecido, eu não seria uma atleta campeã e não viajaria pelo mundo representando o meu País”. O exemplo de Rosinha contribui para a obtenção do respeito a esses indivíduos que, graças ao esporte, (re) integram-se à sociedade.

Dessa forma, quando o Rio, a partir de 7 de setembro, abrir para o mundo a cortina do início da Paralimpíada, não se pode esquecer que a cada competição, quando o ouro for conquistado, o hino que tocará, será o mesmo que foi executado nas Olimpíadas. E a bandeira mais alta a tremular no mastro, a mesma do País de cada competidor tido como normal.

O entusiasmo e aplausos da plateia, quer destinados a brasileiros, quer a estrangeiros, não deverão ser vistos como uma atitude de mero ufanismo, mas o reconhecimento de que tudo é possível àquele a quem foi dada a oportunidade de participar, competir, vencer e realizar-se”.


* Bartyra Soares é da Academia Pernambucana de Letras




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