sábado, 10 de março de 2018

Arquitetura - Flora Figueiredo


Arquitetura

* Por Flora Figueiredo

Solidão é quando se sente o próprio hálito, 
se se descobre pálido olhando o vão do dedo. 
Estar só é morrer de medo do silêncio, 
amassar o lenço na palma da mão. 
É quando a noção da vida se desloca, 
sai do meio da rua, quer a toca, 
onde o espaço menor não deixa sobra. 
Solidão é o canteiro de obras da emoção: 
nele se guardam materiais preciosos, 
os pontiagudos, os tortos, os porosos, 
que, se devidamente combinados, 
serão perfeitamente aproveitados 
como estrutura de uma nova construção. 

Em "Amor a céu aberto". Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1992.

* Poetisa, cronista, compositora e tradutora, autora de “O trem que traz a noite”, “Chão de vento”, “Calçada de verão”, “Limão Rosa”, “Amor a céu aberto” e “Florescência”; rima, ritmo e bom-humor são características da sua poesia. Deixa evidente sua intimidade com o mundo, abraçando o cotidiano com vitalidade e graça - às vezes romântica, às vezes irreverente e turbulenta. Sempre dentro de uma linguagem concisa e simples, plena de sutileza verbal, seus poemas são como um mergulho profundo nas águas da vida. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário