sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Polêmicas em torno de Bob Dylan e de Geraldo Carneiro


A Academia Brasileira de Letras como que imitou, nesta semana, o Comitê do Nobel de Literatura em um determinado aspecto. Ambos optaram por letristas de música popular em suas escolhas, em detrimento de escritores consagrados. No caso dos suecos, deram o prestigioso e cobiçado prêmio literário ao mito do pop norte-americano Bob Dylan que, por enquanto, ainda nem mesmo aceitou a premiação. Imitou, assim, o poeta indiano, Rabindranath Tagore que, na década de 20 do século passado recusou essa honraria. Já os acadêmicos da ABL elegeram o poeta, compositor e roteirista de cinema Geraldo Carneiro para ocupar a cadeira de número 24, da casa de Machado de Assis, que estava vaga desde a morte do seu último ocupante, o crítico teatral e teatrólogo Sábato Magaldi. A primeira escolha foi bastante polêmica e segue gerando debates nos meios culturais. Já a segunda, nem tanto.

Amigos têm insistido em me questionar sobre o que acho desses dois casos, como se minha opinião fosse importante. Obviamente, não é. Todavia, não me manterei em cima do muro, sem receio de pôr mais lenha nessa fogueira e ampliar ainda mais a polemica, que considero pouco (na verdade nada) importante. Se eu fosse membro do Comitê do Nobel, não daria o prêmio de 2016 a Bob Dylan. Admito que, além de se tratar de consagradíssimo artista popular, é excelente poeta. Todavia, como escritor, não é melhor do que uma penca de ilustres candidatos à premiação, entre os quais a nossa representante (e pachequismo à parte), Lygia Fagundes Telles, que merece, com sobras, o Nobel. Isso para não citar o eterno postulante, o norte-americano Philip Roth, que há pelo menos duas décadas vem sendo apontado como “favorito” e que invariavelmente acaba preterido. Mas... é questão de opinião pessoal.

E no caso de Geraldo Carneiro, como eu procederia? Bem, se eu fosse acadêmico e, portanto, com direito a voto, votaria, sem pestanejar, neste mineiro de Belo Horizonte, oito anos e meio mais jovem do que eu (nascido em 11 de junho de 1952), que se tornou conhecido mais como letrista (sua composição “Choro de nada”, em parceria com Eduardo Souto Neto, foi gravada, por exemplo, por Vinicius de Moraes e Toquinho, em 1975 e por Antonio Carlos Jobim e Miucha, em 1978), embora, como poeta, tenha publicado seu primeiro livro antes, em 1974, aos 22 anos de idade, ainda quando estudante de Letras da PUC do Rio de Janeiro. É provável que a esta altura muitos leitores, a exemplo do que amigos chegados já fizeram, estejam afirmando, categoricamente, que estou sendo incoerente. Nem tanto. Conheço a obra literária tanto de Bob Dylan quanto de Geraldo Carneiro. A do primeiro, no meu entender, não o credencia ao Nobel de Literatura. Já a do segundo é compatível para que conquiste a cadeira que disputou na Academia Brasileira de Letras.

Concordo, em tese, todavia, com algumas ponderações. Alguns amigos observaram que, se era para guindar letristas à Academia, por que não fizeram isso antes, com gente como Cartola, como Vinicius de Moraes, como Cazuza, como Caetano Veloso, como Orestes Barbosa ou como Renato Russo? Respondo: porque não se candidataram à ABL. Caso se candidatassem, suponho que não seriam eleitos. A exemplo do Prêmio Nobel, a Casa de Machado de Assis cometeu muitas “mancadas”, algumas até antológicas. Elegeu, por exemplo, dois ex-presidentes da República sem nenhuma tradição literária (Getúlio Vargas e José Sarney), mas não acolheu poetas como Mário Quintana, Vinícius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meirelles e Cora Coralina, entre tantos outros. No quesito “injustiça”, portanto, não fica nada a dever ao Nobel de Literatura.

Ainda bem que não cometeu uma nova, em 2016, elegendo Geraldo Carneiro, com todo o respeito que seus três ilustres concorrentes merecem. Foram eles: o ex-ministro do STF, Eros Grau; o embaixador André Amado (primo em segundo grau de Jorge Amado) e o ex-ministro da Justiça do governo de Fernando Collor, Bernardo Cabral. Não me consta que tenham vivência literária, embora sejam vencedores em suas respectivas carreiras. Por muito pouco, o poeta não conquistou a unanimidade. Dos 34 acadêmicos que votaram, Geraldo Carneiro obteve 33 votos. Eu também votaria nele, e sem pestanejar. Mas não daria o Prêmio Nobel de Literatura a Bob Dylan. Os roqueiros de plantão que me crucifiquem!!!

Boa leitura!


O Editor.

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