quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Domínio da razão


O acúmulo de conhecimentos e informações, ou seja, o mero saber, não implica, necessariamente, em sabedoria. Esta caracteriza-se, entre outras coisas, pelo uso que fazemos desse acervo de dados, acumulado desde os primórdios da civilização, e que é o patrimônio comum de toda a humanidade. O sábio é o que multiplica esse conhecimento e o utiliza de forma a enriquecer a espécie.

Conheço pessoas que sequer sabem ler, mas que são fontes inesgotáveis de bom-senso e de sabedoria. Em contrapartida, sei de inúmeros doutores, com uma infinidade de diplomas, que são arrogantes e obtusos e não enxergam um palmo à frente do nariz no que diz respeito à ciência do bem-viver.

As boas idéias, aquelas que são embriões das grandes obras e que, não raro, até revolucionam o mundo, surgem de repente, quando menos esperamos, como que por acaso. Devemos estar atentos, e, sobretudo, preparados, para não deixar escapar essas preciosas oportunidades, que raramente voltam a aparecer.

Alguns chamam esses momentos especiais de “inspirações”, que de nada valem, frise-se, se não vierem acompanhados de ações, de esforços, de atos concretos e competentes. Ou seja, de “transpiração”. Somos condicionados, desde crianças, a sermos competitivos, como se a vida fosse um jogo. Não é!

Não raro, testamos nossos limites e tentamos ir além deles, para superar supostos competidores. Colocamos à nossa frente objetivos que, quase sempre, são inalcançáveis, e nos frustramos quando não os atingimos. Queremos ser mais, ter mais, fazer mais do que os outros, quando a vida não é isso. Precisamos é conhecer e desenvolver nossas capacidades e viver, sem nos preocuparmos se o vizinho conquistou ou não mais coisas do que nós.

Todos temos, em determinados momentos de nossas vidas, com intensidades variáveis, “lampejos” de sabedoria. Contudo, por negligência, falta de autoconfiança e/ou até mesmo distração, perdemos a oportunidade de nos tornarmos verdadeiramente sábios e de compartilharmos essa desejável condição com o mundo.

Não raro achamos que o conhecimento das coisas e das pessoas vem sempre completo, acabado, prontinho para ser usufruído. Engano! Compete-nos expandi-los, aperfeiçoá-los, burilá-los, dar-lhes a nossa indispensável contribuição, com a marca da nossa personalidade. Esse detalhamento é o que nos compete fazer, mediante muito estudo, meditação, observação e autodisciplina. O resultado desse esforço, porém, é mais do que compensador.

Há uma lenda, muito antiga, que diz que os primeiros seres humanos tinham asas, a exemplo dos anjos, dos quais seriam uma subespécie. Podiam voar livremente, no céu azul, como os pássaros, cortando, ágeis e graciosos, o espaço. Todavia, ao se corromperem, sofreram profunda metamorfose e se transformaram nos pobres e rústicos bípedes, que hoje são.

No entanto, contamos, ainda, com um instrumento muito mais ágil e perfeito do que as asas primitivas que, supostamente, perdemos. É ele  que nos permite nos transportar, em frações de infinitésimos de segundos, para outros mundos, constelações e galáxias, aos confins do universo, onde instrumento humano algum jamais alcançou. E qual é esse miraculoso meio? Claro, é a imaginação!  

Temos o poder, através dela, de criar novos mundos, para nós e para os que nos cercam, na impossibilidade de modificar o que aí está. Mas, para que isso valha a pena, é indispensável que sejamos (e que nos sintamos) felizes. Caso contrário, só conseguiremos criar “infernos” de ressentimentos, desesperança, angústias e dores (reais e/ou imaginárias).

A principal característica de quem é dotado de verdadeira grandeza não é, como muitos (erroneamente) pensam, a arrogância, a prepotência e a soberba. É a humildade. É o conhecimento das próprias limitações. É a correta avaliação do real alcance de suas capacidades, sem sobreestimá-las e nem subestimá-las. É o profundo e irrestrito respeito pelos carentes, pelos fracos e pelos néscios, consciente que se tem muito o que aprender com eles. É respeitar idéias e opiniões alheias, sem abrir mão das próprias convicções. É nunca se achar “iluminado”, mesmo que o seja. É compartilhar experiências e conhecimentos com todos os que estiverem dispostos a essa partilha. Ser “grande”, portanto, significa ser íntegro, ser solidário e, sobretudo, saber respeitar todo e qualquer semelhante, sem preconceitos e discriminações.

Entendemos o conceito de “civilização” a partir de pressupostos equivocados. Consideramos “civilizados” os que têm acesso a uma boa moradia (com toda a parafernália que a vida moderna proporciona), a um carro potente e de preferência do ano, a uma boa universidade, às informações fartas e múltiplas etc.

Mesmo que não digamos, somos tentados a achar que quem não conta com essas facilidades é bárbaro, inculto e vive na “idade da pedra lascada”. Mas os verdadeiros princípios de civilização não estão ligados a bens e/ou facilidades materiais. São o respeito irrestrito ao próximo, a solidariedade, a justiça e a bondade, entre outras virtudes.

Não foi sem razão, pois, que o escultor francês Auguste Rodin, criador da célebre escultura “O Pensador”, constatou: “A civilização não é, em suma, senão uma camada de pintura que qualquer chuvinha lava”. Pelo menos esta, que aí está, é (infelizmente) apenas isso e nada mais. Nosso grande desafio é o de mudar esse simulacro de civilização. Que tal tentar? Quem se habilita?


Boa leitura!

O Editor.

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