Marcando horário
* Por
Rodrigo Ramazzini
Em meio à viagem em um
ônibus lotado, Bruno resolveu fazer uma ligação, que surpreendentemente estava
ruim, tendo assim que falar em um tom audível aos demais passageiros, que
instigados pela curiosidade ficaram em silêncio para ouvir a conversa.
- Alô!
- ...
- É a Scheila?
- ...
- É o Bruno. Tudo bem?
- ...
- Tudo bem comigo
também! Estou te ligando para marcar um horário. É possível?
- ...
- Hoje. É possível
ainda?
- ...
- Só neste horário?
Antes não tem como?
- ...
- Ah! Já tem outros
clientes marcados. Entendo... Entendo...
- ...
- Claro! Claro!
Entendo... Deixei para ligar em cima da hora também. Mas, eu vou querer assim
mesmo. Eu espero tu atender os outros! Ok?
- ...
-Sim, claro! Como nas
vezes anteriores: barba, cabelo e bigode, como se diz! Há! Há! Há!
- ...
-Perfeito! Daqui a
pouco eu estou chegando aí. Continua o mesmo preço?
- ...
- Putz! Tudo isso?
Subiu?
- ...
- Bah! Queria ganhar
dinheiro que nem tu pela hora trabalhada. Aliás, não fico nem uma hora aí...
- ...
- Eu sei! Eu sei! Sei
que tu és profissional e só está acompanhando o mercado...
- ...
- Certo! Então, está
combinado!
- ...
- Até daqui a pouco...
- ...
- Tchau!
Bruno desligou o
celular sob os olhares carregados de julgamento dos demais passageiros. Mais
dez minutos de viagem e ele desembarcou do coletivo em frente a uma grande e
conhecida galeria comercial da cidade, que abrigava de banca de cachorro quente
a quartos utilizados para a prostituição.
Assim que ele deixou o
ônibus, todos os seguiram com olhos de águia até vê-lo entrar na galeria.
Então, iniciaram os pensamentos e comentários: “que absurdo!”, “não se tem mais
respeito por nada mesmo!”, “em plena luz do dia, que cara de pau!”, “não tinha
outro lugar para o cara marcar esse tipo de coisa?”, “que sem-vergonha!”,
“Aposto que deixou a mulher em casa para andar com essas vagabundas”, e por aí
afora...
Enquanto era alvo dos
passageiros do ônibus, Bruno pensava ingressando contente na galeria:
“Que bom que consegui
um horário para cortar o meu cabelo! A cabeleireira Scheila anda concorrida!”.
*
Jornalista e contista gaúcho
Nenhum comentário:
Postar um comentário