O Mercado do São José
No bairro do São José
* Por
Clóvis Campêlo
O fato mais pitoresco
que eu me lembre, no bairro do São José, ocorreu nos anos 60, quando caminhava
com o meu amigo Valmir Sá por uma das ruelas ao lado do Mercado e ele foi
mordido por um cavalo de carroça, que comia o seu capim aparentemente sem problemas.
Eu não imaginava que um cavalo pudesse morder alguém. A sorte do meu amigo é
que o cavalo pegou o seu braço de raspão, apenas o arranhando. Imagino que a
dentada poderia ter lhe arrancado um pedaço do braço. Por sorte, isso não
aconteceu.
Uma outra lembrança,
essa mais feliz, é a do Clube Batutas de São José, cuja sede funcionava no Cais
de Santa Rita, nos anos 70. Por essa época, nos sábados à noite, acompanhado
dos amigos José Arimateia, que hoje mora na cidade de Atibaia, em São Paulo, e
Michael Madona, um inglês de pais indianos, que tocava guitarra magistralmente,
gostava de frequentar as soirées. Quando o dia amanhecia, íamos para o Mercado
de São José, tomar o café da manhã. Sempre nos finais das festas, Michael
gostava de subir ao palco e dar uma canja com os músicos populares que animavam
o baile. Sempre ficava extasiado com a qualidade e habilidade dos nossos
músicos.
No bairro de São José,
aliás, nasceram os amigos Liêdo Maranhão e Luiz Guimarães. No bairro, também
nasceu Walmir Chagas, que hoje incorpora a malemolência do Véio Mangaba. Conta
Mangaba que uma vez, no carnaval, em um dos becos do bairro, flagrou um folião
fantasiado de palhaço fazendo sexo anal com outro fantasiado de índio.
Irreverente como sempre, parou e gritou: “Ei, rapaz, respeite o índio. Ele é um
patrimônio nacional!”.
Segundo Lúcia Gaspar,
no site da Fundaj, pelo Censo do IBGE do ano 2000, o bairro, que tem uma área
de 178 hectares, ainda possuía 8.653 habitantes.
Hoje, o bairro se
transformou em uma área quase que eminentemente comercial. Segundo a autora
acima citada, na década de 1930, o local era habitado por comerciantes,
funcionários públicos, comerciários, portuários e outros representantes da
classe média do Recife. Porém, há muito tempo, o bairro deixou de ser uma zona
eminentemente residencial. São poucas as famílias que lá residem e não existem
mais quintais e hortas como antigamente.
O ponto nevrálgico do
bairro é o Mercado de São José, inaugurado em 1875, na área onde antes existia
a Ribeira do Peixe ou Ribeira de São José. Sua estrutura de ferro foi projetada
pelo engenheiro francês J. Louis Lieuthier, que se inspirou no mercado de
Grenelle, em Paris.
Nas proximidades do
Mercado, na Praça Dom Vital, está a Igreja da Penha, o maior templo católico do
Recife, onde, todas as sextas-feiras, é celebrada a famosa benção de São Félix.
Também na Praça, até certo tempo atrás, funcionava o Cinema Glória, local de
programação pornográfica e de prostituição e encontros gays.
Recife, agosto de 2015
* Poeta, jornalista e radialista,
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