O Ballet de Cuba e Alícia Alonso
* Por
Adair Dittrich
Chegar em Havana numa
quente e ensolarada tarde de verão e deslizar suavemente por imensa avenida
arborizada que se estende desde o aeroporto até que se vislumbre o deslumbrante
mar de infinitas cores era um sonho sonhado desde a minha adolescência
aventureira.
Um mundo de cores ali,
agora, ao meu alcance, o mesmo mundo que encantou espanhóis e outros povos
depois que da ilha de Cuba não queriam mais sair.
E lá estava eu,
boquiaberta ainda e esquecida da estafa pela longa jornada desde a minha casa
até o local de frente ao mar onde ficamos.
Não se pode dizer ter
conhecido Havana em tão curto espaço de tempo. Mas foi uma entrega total desde
as primeiras horas para tudo observar, tudo ver, tudo ouvir e tudo sentir.
E, no meu mais
recôndito eu havia algo a mais, um ponto máximo, um ponto clássico, um
espetáculo que não poderia deixar de ser visto: uma apresentação do Ballet
Nacional de Cuba. O magnífico Ballet de Cuba, mostrado, divulgado e que ficou
no mundo conhecido através da arte inigualável da legendária bailarina cubana
Alicia Alonso.
Ainda estou em êxtase
quando lembro que tive a grande chance de ter podido ver a grande dama do balé
mundial sendo aplaudida em pé e ovacionada ao aparecer em seu camarote sorrindo
do alto de seus noventa e dois anos.
Alicia Alonso é a
diretora geral do Ballet Nacional de Cuba e diariamente ela lá está dando
lições, desenvolvendo coreografias, instruindo bailarinos.
Cega desde os setenta
anos de idade não se entregou a essa deficiência e presente está em cada
momento, em cada ensaio, percebendo com sua sensibilidade artística qualquer
passo em falso, qualquer deslize, qualquer erro, apenas pelo som dos pés dos
bailarinos nos palcos e nos tablados.
A apresentação que
assistimos foi “Gala Amistad Cuba-China”, uma função especial do Ballet
Nacional de Cuba com os primeiros bailarinos do Ballet Nacional da China.
E os bailarinos no
palco eram como aves e como nuvens no espaço dançando ao som de selecionados
excertos de célebres peças do Balé Clássico como Cenas de Giselle, Pax-de-deux
de Esmeralda, Duo de amor de Espártaco e de O Corsário. E não poderia faltar o
clássico Dom Quixote para encerrar o espetáculo de gala.
E, ao final, ela, a
legendária vem à boca de cena, ladeada pelos bailarinos, para o coreográfico
agradecimento. Uma das cenas mais emocionantes foi ver Alicia Alonso fazer
aquele gesto no palco, quase genuflexa frente ao público que não cessava de
ovacioná-la em pé!
Impressão de que o
Teatro Nacional de Cuba quase viria abaixo com a torrente de aplausos, que
duraram mais de dez minutos, enquanto lágrimas de emoção lavavam meu rosto e
saí de lá em silêncio, gratificada por ter visto e aplaudido a magnífica
bailarina e coreógrafa Alicia Alonso.
* Médica
e escritora
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