terça-feira, 12 de novembro de 2013

As grandes lições da vida

* Por Arita Damasceno Pettená

Tortuosos são, muitas vezes, os caminhos que atravessamos. A cada instante se nos deparam situações para as quais julgamos não estar preparados e nos tornamos profundamente angustiados diante da perda de alguém a quem muito queríamos, ou ao presenciar o mal sem cura que, lentamente, vai destruindo um dos nossos.

Revoltar-se diante de fatos como estes só agravaria o drama em que se debatem os atingidos e diminuiria nossa resistência de enfrentar o inevitável como decorrência normal da existência humana. Ninguém sofre em vão. A dor física ou moral que sobre nós se abate põe em prova quase sempre nossa quota de sacrifício. E é preciso nessas horas, como nos diz padre Antônio Vieira, não arrefecer o ânimo porque, “a mais fiel de todas as companheiras da alma é a esperança”.

Dizia Guimarães Rosa: “Viver é difícil”. Cada dia que passa nunca sentimos tão real esta afirmação. Mas se tivermos espírito forte e uma fé inquebrantável , veremos que claros caminhos surgem diante de nós como clareiras abertas em densas madrugadas. Não existe melhor antídoto para a dor , para as desgraças que aparecem de abrupto, que a oração feita em recolhimento , dentro do que nos diz Coelho Neto: “As angústias mais cerradas deixam sempre uma clareira iluminada para uma réstia de esperança”. Ninguém ignora ainda que é, muitas vezesda infelicidade que renasce a nossa fé, que nossas forças se renovam na luta por um mundo melhor, mais voltado para os interesses de nosso irmão. De que adianta tornarmo-nos fanáticos  de um só credo, saber de cor mil preceitos bíblicos, guardar na memória uma infinidade de orações , se nosso papo com o Cristo não tivesse o colorido de um diálogo informal, a emoção de um desabafo carregado de frases espontâneas e às vezes até agressivas  como retrato fiel da nossa mísera condição humana.

É imprescindível, como dizia Dom Helder Câmara, em “Mil razões para viver”: “Viver o mistério da Criação, fazendo de cada dia um cântico das criaturas, e tendo a confiança, a audácia de exercer uma incrível missão de coautor”. Orar não é apenas postar-se diante do altar, dedos entrelaçados  em posição de prece. A oração é algo mais. É desprender-se de si mesmo para pensar no outro. É se propor a construir um mundo  mais humano, mais enraizado no espírito que na matéria. É, enfim, como apregoa Lourenço Prado,  em “Alegria e Triunfo”, afirmar que nossa existência é uma expressão da Harmonia, do Amor, da Verdade e da Justiça.

O dia em que pudermos esquecer nosso “eu” para pensar nas milhares de criaturas que perambulam por esse mundo de Deus, sem saber para onde ir, sem ter com quem ficar; o dia que pararmos para meditar que, apesar de tudo, ainda fomos aquinhoados com a melhor parcela, porque das grandes tragédias temos sido apenas espectadores; o dia em que tivermos a humildade de reconhecer quão pouco temos dado e quanto temos recebido, estaremos sendo realmente gratos diante de tanta magnitude.

Não basta, como nos afirma, em “Claro Caminho”, Marcelle Auclair, “trabalhar não apenas com as mãos; é preciso por fervor em tudo eu se faz”. Palavras negativas devem ser varridas, de uma vez, para que não se infiltrem em nosso subconsciente. Se a palavra é vida, ela se faz semente e se torna fruto na formação de nosso destino quando carregado de doses de otimismo e de afirmações positivas. É preciso crer, ainda, que é quase sempre do fracasso que tiramos as grandes lições para uma retomada de posição e que cada queda implica eliminar o que não nos convém até chegar ao equilíbrio de nossas vivências. Em qualquer situação, pois, façamos da oração o nosso encontro com Cristo, que há de ser sempre refúgio e fortaleza de nossa vida, como única verdade que fica.


* Arita Damasceno Pettená é professora, escritora e membro da Academia Campinense de Letras


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