As grandes lições da vida
* Por
Arita Damasceno Pettená
Tortuosos são, muitas
vezes, os caminhos que atravessamos. A cada instante se nos deparam situações
para as quais julgamos não estar preparados e nos tornamos profundamente
angustiados diante da perda de alguém a quem muito queríamos, ou ao presenciar
o mal sem cura que, lentamente, vai destruindo um dos nossos.
Revoltar-se diante de
fatos como estes só agravaria o drama em que se debatem os atingidos e
diminuiria nossa resistência de enfrentar o inevitável como decorrência normal
da existência humana. Ninguém sofre em vão. A dor física ou moral que sobre nós
se abate põe em prova quase sempre nossa quota de sacrifício. E é preciso
nessas horas, como nos diz padre Antônio Vieira, não arrefecer o ânimo porque,
“a mais fiel de todas as companheiras da alma é a esperança”.
Dizia Guimarães Rosa:
“Viver é difícil”. Cada dia que passa nunca sentimos tão real esta afirmação.
Mas se tivermos espírito forte e uma fé inquebrantável , veremos que claros
caminhos surgem diante de nós como clareiras abertas em densas madrugadas. Não
existe melhor antídoto para a dor , para as desgraças que aparecem de abrupto,
que a oração feita em recolhimento , dentro do que nos diz Coelho Neto: “As
angústias mais cerradas deixam sempre uma clareira iluminada para uma réstia de
esperança”. Ninguém ignora ainda que é, muitas vezesda infelicidade que renasce
a nossa fé, que nossas forças se renovam na luta por um mundo melhor, mais
voltado para os interesses de nosso irmão. De que adianta tornarmo-nos
fanáticos de um só credo, saber de cor
mil preceitos bíblicos, guardar na memória uma infinidade de orações , se nosso
papo com o Cristo não tivesse o colorido de um diálogo informal, a emoção de um
desabafo carregado de frases espontâneas e às vezes até agressivas como retrato fiel da nossa mísera condição
humana.
É imprescindível, como
dizia Dom Helder Câmara, em “Mil razões para viver”: “Viver o mistério da
Criação, fazendo de cada dia um cântico das criaturas, e tendo a confiança, a
audácia de exercer uma incrível missão de coautor”. Orar não é apenas postar-se
diante do altar, dedos entrelaçados em
posição de prece. A oração é algo mais. É desprender-se de si mesmo para pensar
no outro. É se propor a construir um mundo
mais humano, mais enraizado no espírito que na matéria. É, enfim, como
apregoa Lourenço Prado, em “Alegria e
Triunfo”, afirmar que nossa existência é uma expressão da Harmonia, do Amor, da
Verdade e da Justiça.
O dia em que pudermos
esquecer nosso “eu” para pensar nas milhares de criaturas que perambulam por
esse mundo de Deus, sem saber para onde ir, sem ter com quem ficar; o dia que
pararmos para meditar que, apesar de tudo, ainda fomos aquinhoados com a melhor
parcela, porque das grandes tragédias temos sido apenas espectadores; o dia em
que tivermos a humildade de reconhecer quão pouco temos dado e quanto temos
recebido, estaremos sendo realmente gratos diante de tanta magnitude.
Não basta, como nos
afirma, em “Claro Caminho”, Marcelle Auclair, “trabalhar não apenas com as
mãos; é preciso por fervor em tudo eu se faz”. Palavras negativas devem ser
varridas, de uma vez, para que não se infiltrem em nosso subconsciente. Se a
palavra é vida, ela se faz semente e se torna fruto na formação de nosso
destino quando carregado de doses de otimismo e de afirmações positivas. É
preciso crer, ainda, que é quase sempre do fracasso que tiramos as grandes
lições para uma retomada de posição e que cada queda implica eliminar o que não
nos convém até chegar ao equilíbrio de nossas vivências. Em qualquer situação,
pois, façamos da oração o nosso encontro com Cristo, que há de ser sempre
refúgio e fortaleza de nossa vida, como única verdade que fica.
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Arita Damasceno Pettená é professora, escritora e membro da Academia Campinense
de Letras
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