Dia
Nacional do Saci-Pererê e lançamento de livro
A celebração do Dia Nacional do Saci-Pererê será nesta quinta-feira, das
15 às 17 horas, na Esquina Democrática, em frente à igreja São Francisco, na
capital catarinense, Florianópolis. A promoção é da Revista Pobres &
Nojentas, com apoio do Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário Federal
do Estado de Santa Catarina (Sintrajusc) e do Sindicato dos Trabalhadores da
Universidade Federal de Santa Catarina (Sintufsc). Será também lançado o novo
livro da jornalista Elaine Tavares, da equipe da Pobres & Nojentas,
intitulado "Olímpia Gayo visita o diabo". O trabalho conta a história
da freira franciscana Olímpia Gayo, que iniciou um fecundo trabalho de
organização das mulheres prostituídas em Lages (veja no final do release). Haverá,
também, música, contação de histórias, brincadeiras e distribuição de
“sacizinhos”.
A lenda é assim! Basta que exista um bambuzal e, de repente, de dentro
dos caniços, nascem os sacis. É como eles vêm ao mundo, dispostos a fazer
estripulias. Conta a história que esses seres já existiam bem antes do tempo
que os portugueses invadiram nossas terras. Ele nasceu índio, moleque das
matas, guardião da floresta, a voejar pelos espaços infinitos do mundo
Tupi-Guarani. Depois, vieram os brancos, a ocupação, e a memória do ser
encantado foi se apagando na medida em que os próprios povos originários foram
sendo dizimados.
Quando milhares de negros, caçados na África e trazidos à força como
escravos, chegaram no já colonizado Brasil, houve uma redescoberta. Da memória
dos índios, os negros escravos recuperaram o moleque libertário, conhecedor dos
caminhos, brincalhão e irreverente. Aquele mito originário era como um sopro de
alegria na vida sofrida de quem se arrastava com o peso das correntes da
escravidão.
Então, o moleque índio ficou preto, perdeu uma perna e ganhou um barrete
vermelho, símbolo máximo da liberdade. Ele era tudo o que o escravo queria ser:
livre! Desde então, essa figura adorável faz parte do imaginário das gentes
nascidas no Brasil.
O Saci-Pererê é a própria rebeldia, a alegria, a liberdade. Com o
processo de colonização cultural via Estados Unidos – uma nova escravidão – foi
entrando devagar, na vida das crianças brasileiras, um outro mito, alienígena,
forasteiro. O mito do Haloween, a hora da bruxa e da abóbora, lanterna de Jack,
o homem que fez acordo com o diabo. A história é bonita, mas não é nossa. Tem
raízes irlandesas e virou dia de frenéticas compras nos EUA e também no Brasil.
Na verdade, a lógica é essa. Ficar cada vez mais escravo do consumo e da
cultura alheia. Jeito antigo de colonizar as mentes e dominar. É por isso que a
Pobres & Nojentas quer recuperar o Saci, o brasileiro moleque das matas,
guardião da liberdade, amante da natureza que hoje está ameaçada de destruição.
Queremos vida digna, um país soberano na política, na economia, na arte
e na cultura. Cada região deste Brasil tem seus próprios mitos. Caipora,
Boitatá, Curupira, Bruxa, Negrinho do Pastoreio... São os amigos do Saci que
estão presentes na atividade do Dia do Saci Pererê, saudando e buscando a
liberdade.
Mais informações: Míriam Santini de Abreu - 96207333
Olimpia Gayo visita o diabo é o sexto livro da jornalista Elaine
Tavares, que atua no Instituto de Estudos Latino-Americanos/UFSC. O trabalho
conta a história da Pastoral da Mulher Marginalizada criada na cidade de Lages
pela irmã Olímpia. A teóloga Ivone Gebara é quem apresenta essa preciosa
história de uma mulher que nunca se recusou a olhar o diabo de frente.
"Elaine Tavares tem o dom e a arte de contar histórias de mulheres
apaixonadas pela vida. Mulheres que são parte da história oculta da bondade e
da beleza e que atuaram intensamente para que esses valores continuassem a se
manifestar nas vidas sofridas e silenciadas. "Olímpia Gayo visita o
diabo" é mais uma preciosa narrativa que revela o percurso de uma mulher
que cresceu vencendo o sofrimento que a vida punha em seu caminho. Desde
criança vencia o sofrimento preparando-se e lutando pela dignidade da vida de
outras sofredoras e sofredores.
O texto move o coração e convida a abrir os olhos para as vidas ocultas,
aparentemente sem valor, para a escória humana que somos e criamos assim como
para a salvação e libertação que também podem nascer de nós. Sim, somos
salvadoras umas das outras, somos a mão estendida, o abraço apertado, o sentido
da solidariedade, a misericórdia vivida. Somos a voz que denúncia, que grita
até que os corações de pedra comecem a palpitar de novo e ver e ouvir o mundo
ao seu redor.
Conheci Olímpia num encontro de estudos em Julho de 2013 em Lages. Sua
congregação religiosa me convidara para uma semana de reflexão sobre
espiritualidade ecofeminista. Desde as primeiras palavras que ouvi de Olímpia,
a cumplicidade nas ideias, nas visões e, sobretudo, sua forma de "sentir a
dor do mundo" ecoaram em mim. Cada uma do nós, de seu jeito, vivia a
paixão pela vida manifestada através de muitas formas e expressa através de
muitos nomes. Tínhamos muitas coisas em comum. Enfrentamos demônios parecidos,
aqueles que atingem os corpos de mulheres e querem silenciar seus gritos de
liberdade.
Nas visitas e encontros de Olímpia com os "diabos" da fome, da
droga, da prostituição, seu nome, que faz lembrar o Olimpo, moradia dos deuses
gregos, espantava os algozes e trazia algo apaziguador, algo ao mesmo tempo
celeste e terrestre. Os diabos fugiam e se descobria sua face oculta, sua
beleza, sua momentânea integridade. No encontro de coração a coração os diabos
não ficam. Abrem o espaço para o amor e a justiça. Por isso tantas pessoas
marginalizadas encontraram na presença de Olímpia a força para viver,
levantar-se e seguir o caminho do resgate da vida.
Ao final da leitura do livro um sentimento de profunda gratidão e beleza
tomou conta de mim. Gratidão à Elaine, à querida Olímpia e a tantas pessoas que
no anonimato sustentam a vida e anunciam a grandeza do amor, único capaz de
curar os corações partidos e renovar a face da terra".
Contato Elaine: 91516066
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