Paralelismos nem tão
paralelos
O escritor João Ubaldo
Ribeiro, um dos personagens desta série de estudos baseada na antologia “Histórias
da Bahia” (Edições GDR, Rio de Janeiro, 1963) sobre alguns dos principais
ficcionistas baianos, está naquela minha extensa lista de preferidos, como
destaquei em texto anterior. Afirmei, na oportunidade, que essa preferência se
devia a duas circunstâncias básicas. A primeira, e óbvia, é a qualidade de sua
obra. Como me julgo leitor de bom gosto,
seria a coisa mais lógica e natural do mundo gostar dos seus livros, de todos
os gêneros pelos quais transitou e transita. Isso é para lá de óbvio.
Confidenciei na ocasião
que há outro motivo para apreciar tudo o que se refira a essa maiúscula figura
das nossas letras e que esse era de ordem estritamente pessoal. Bem, vou logo
adiantando que não o conheço pessoalmente e ele muito menos a mim. É provável,
ou mais, é certo que ele jamais ouviu falar de mim e duvido que venha a ouvir
algum dia. Sequer desconfia da minha existência. Não alcancei (ainda) nível de
importância que me habilite a ser conhecido além dos limites do Estado em que
habito, ou, para ser mais exato, de Campinas, cidade que tanto amo e que tem me
dado muito mais do que mereço.
“Então que raios de
motivos pessoais você tem para gostar tanto de João Ubaldo?!”, perguntará, com
toda certeza, em tom prévio de censura, aquele leitor chato e intrometido, que
menciono a todo instante em meus textos (menção essa que os críticos de
plantão, os tais que “sabem tudo” e que na verdade não sabem nada, condenam e
consideram como de “mau tom”, o que discordo e, por isso, continuarei escrevendo
assim sempre que me der na veneta). Bem, essas razões são tão particulares, que
gostaria de omiti-las. Mas não omitirei, sob o risco de passar uma imagem
infantil e até piegas. É um paralelismo que nem é tão paralelo assim. Não frustrarei
os leitores que me solicitaram que o fizesse, porém, através de e-mails.
Afinal, não vivo apregoando que o escritor não pode ter escrúpulos em relação à
sua imagem e que não deve vacilar em se “desnudar” publicamente quando julgar
necessário? Pois então! Farei isso, ora bolas, mesmo que minhas confidências
venham a ser interpretadas como piegas, ou como tolas, o que talvez até sejam.
O primeiro motivo
pessoal (e, reitero, não me refiro ao óbvio, que é a qualidade de sua obra),
pelo qual sinto inegável familiaridade quando ouço ou leio a respeito de João
Ubaldo, é o fato dele ser de minha geração. O escritor baiano é exatos um ano e
trezentos e sessenta e dois dias mais velho do que eu. Ele nasceu em 23 de janeiro
de 1941 e eu em 20 de janeiro de 1943. Mas não é só isso. Ambos cursamos
Direito, posto que em faculdades diferentes. Ele em Salvador e eu na Pontifícia
Universidade Católica de Campinas. Ambos, todavia, jamais advogamos, optando
pelo jornalismo e pela Literatura.
Bem, as semelhanças
param por aí. João Ubaldo, graças ao seu imenso talento, é nome não somente
nacional, mas internacional no mundo das letras, premiadíssimo e super
requisitado. Já eu... batalho para sair da areia movediça da minha
insignificância e luto por um lugarzinho ao sol, mesmo que restrito ao meu
mundinho particular. Minto. Há outra coisa que ambos fizemos, posto que com uma
diferença abissal, tão gritante como a que existe entre a água e o fogo, em
termos de importância: ambos somos acadêmicos. Calma, pessoal, ainda não
cheguei lá! Não, não sou membro da Casa de Machado de Assis, que está distante
de mim como a Terra está de algum eventual planeta da estrela Orion.
Sou, desde 1992, com
muita honra, integrante da Academia Campinense de Letras. Ocupo, pois, há 21
anos, a cadeira de número 14. “E onde a coincidência?!”, certamente voltará à
carga o tal do leitor chato e sempre azedo que citei acima. Bem, João Ubaldo é,
desde 1993, também acadêmico. Da Campinense? Sem demérito algum à casa de
cultura que me abriga (e da qual me orgulho), não, não é! É da Academia
Brasileira de Letras, Mas a cadeira que ocupa, por coincidência (e ei-la aí!),
também é a de número 14.
Sei que são fatores
minúsculos, ínfimos, pífios até, descambando para o ridículo, mas me apego a eles
como algo precioso para mim. Ademais, já avisei, previamente, que esse apego
sentimental poderia ser interpretado – talvez seja, talvez não e talvez passe
até mesmo incólume, sendo simplesmente ignorado, tão sem sentido que é – como piegas
e, sobretudo, como tolo. Apenas trouxe-os à baila por haver, em texto anterior,
deixado escapar (imprudentemente) que eles existiam, sem revelar na ocasião
quais eram.
E por ser tão instado
(praticamente intimado), na sequência, por vários leitores, através de e-mails
que recebi (foram dezenas deles), decidi revelar quais eram essas razões pessoais
para considerar João Ubaldo “familiar” e um dos meus tantos escritores preferidos.
Certamente, quem fez essa solicitação tinha a (vã) expectativa de que fossem
coisas relevantes o que eu “teria” a dizer a respeito. Óbvio, não são. Pelo
menos não para os outros. Para mim, contudo, têm relevância, e muita, ora
bolas! Pensem de mim o que quiserem. Mas foi a contragosto, repito, e correndo
todos os riscos para a minha imagem, que decidi escrever este punhado de
tolices, sem pé e nem cabeça, no que espero ser perdoado. Porquanto, jamais
nego qualquer coisa para os que me honram com sua generosa leitura, sejam quais
forem as conseqüências da minha disponibilidade.
Boa leitura.
O Editor
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk.
Sei que não escreveu isso em busca de apoio ou elogios. Tolice por tolice, mais tolos serão aqueles que o julguem apenas por essas confidências. Você anda além de Campinas e sabe disso. Também gosto de ler boas coisas e te leio há quase sete anos e acho bom. Preciso dizer mais?
ResponderExcluirObrigado, Mara, pela compreensão e pelo comentário.
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