Tempos felizes 5
* Por
Urda Alice Klueger
(Excerto do livro
"Meu cachorro Atahualpa, publicado em 2010.)
A casa 2 dele, seu segundo lar, é a casa da minha prima Rosiani.
Tudo começou quando ele era ainda um filhote de pouco mais de meio ano e
eu tinha que viajar na manhã seguinte e, desesperadamente, procurava onde
deixá-lo, já que poucas horas antes ele tinha sido perdido pelo hotelzinho onde
o deixara na maior confiança. Foi horrível. Deixei meu cachorrinho lá, crente
de que estaria muito seguro, e pouco depois passei a me sentir muitíssimo
angustiada querendo saber dele, e pus-me a telefonar, e o hotelzinho não
atendia as minhas ligações. Para resumir, haviam perdido meu filhote – o
coração mo havia contado – e além de não me dizerem nada, deixaram até de
atender aos meus telefonemas.
Aquele era um dia importante: estreava em Blumenau o filme ”Por causa de
Papai Noel”, da cineasta Mara Salla, que havia sido baseado num livro meu, e eu
deveria estar na estréia. Este fora o motivo porque deixara Atahualpa no
hotelzinho na metade do dia, sendo que só iria viajar na manhã seguinte – e meu
cachorrinho sumira!
Resumindo ainda mais: na hora da estréia do filme, ao invés de eu estar
no cinema, andava pelas ruas próximas ao hotelzinho chorando alto e gritando,
desesperada:
- Atahualpa! Atahualpa!
Tive tanta sorte que o encontrei, numa casa onde boas crianças haviam se
compadecido daquele filhotinho preto com frio e lhe tinham dado abrigo, e
quando eu passei gritando o nome dele, ele veio até o portão, todo assustado,
para dizer que estava ali.
Mais um resumo: cheguei à Fundação Cultural, onde ficava o cinema, bem
no momento em que o filme terminava e as pessoas vinham discuti-lo num
coquetel, no lado de fora. Estava transida de chorar, abraçada ao meu
filhotinho, e as pessoas do coquetel foram as que me consolaram e me sugeriram
endereços onde ele poderia ficar. O problema é que deveria viajar para longe,
bem cedo – conforme o coquetel ia terminando eu fui atrás dos tais endereços,
mas todos os lugares estavam fechados. Em desespero de causa telefonei para a
casa da minha prima Rosiani, e o marido dela, meu primo Germano Gieland me
atendeu.
- Traz teu cachorrinho para cá que eu cuido dele! – me prometeu.
Nunca mais Atahualpa ficou em outro lugar que não na casa da Rosiani. Há
que se saber que Rosiani tem três filhos, a Bruna, a Hana e o Mário Henrique,
tem o cachorro Capitão, diversos gatos, e recentemente Bruna passou a ter,
também, a cachorrinha Lana. Hoje Mário Henrique tem 13 anos, mas há dois e meio
atrás ele tinha dez e foi dada a ele a responsabilidade de cuidar do Atahualpa,
claro que sob a supervisão da Rosiani. Na verdade, no enorme terreno onde fica
a casa da Rosiani, ficam também as casas dos outros meus primos irmãos dela, o
Márcio, o Charles com sua mulher Cléia e o filho Ricardo, a Mayde, que é da
minha idade mas que ficou viúva do meu compadre Nilo Guse já faz tempo e que já
tem três filhos casados, morando só com a Aline, a caçulinha. Então cachorro de
apartamento, filhote com o único arrimo que era eu, Atahualpa ganhou, de uma
vez só, toda uma grande família, e quando está lá ele fica como um peixe na
água. O Capitão, o cachorro da Rosiani, mora num rancho mais ao fundo do
terreno, enquanto que Atahualpa até hoje dorme no quarto de Mário Henrique e
tem a mordomia do grande terreno com gramados e plantas, além de um monte de
gente para agradar.
*
Escritora de Blumenau/SC, historiadora e doutoranda em Geografia pela UFPR
Nada como um bom abrigo substituto em casos de emergência, especialmente quando há muito amor para receber.
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