quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Privilégio e responsabilidade

* Por Pedro J. Bondczuk

A tradição esotérica diz que a humanidade já atingiu, em dez ou doze vezes ao longo do tempo, o ápice da civilização e retroagiu às cavernas em conseqüência de catástrofes provocadas pela ganância e insensatez do homem. Está provado cientificamente que as grandes hecatombes aterrorizam de tal forma as pessoas, que ocorre uma espécie de amnésia coletiva entre os que conseguem sobreviver a elas.

O instinto de sobrevivência sobrepõe-se a todos os valores éticos. E a parte animal do ser humano prevalece sobre a razão. Mitos? Lendas? Pode ser. Mas o mais provável é que descrições de algumas dessas civilizações, feitas por poetas, escritores ou místicos, (como a da Atlântida, por exemplo), sejam resquícios de memória coletiva adormecidos, que emergem na mente de indivíduos superiormente dotados.

Há muitos deles no mundo atual, como que escondidos, temendo falar dos conceitos que conhecem para não se exporem ao ridículo. Tais pessoas, porém, têm uma responsabilidade muito grande pelo fato de serem privilegiadas. Compete-lhes guiar as massas pelos caminhos da virtude e do bem, para impedir que um novo ciclo civilizatório se encerre com outra catástrofe, provavelmente nuclear, e que tudo tenha que começar de novo, por longos milênios, como que num "moto perpétuo" de evolução espiritual e material e retrocesso.

As descrições de Platão sobre a Atlântida são muito precisas e detalhadas para serem, apenas, ficção. Quando as li pela primeira vez, minha intuição cochichou-me ao ouvido que se tratava de relato de um fato e não de mera alegoria, como muitos afirmam. E essa afirmação é baseada no quê? No puro ceticismo de quem a faz.

Ademais, Platão era filósofo e não romancista. Aliás, este gênero seria criado quase dois mil anos depois da sua morte. Não consta, ademais, que esse gênio, racional e lógico, fosse dado à mitomania, ao hábito de mentir, mesmo que para ilustrar seus ensinamentos. Também não se tratava de arquiteto para detalhar, com tamanha precisão e rigor – inclusive com medidas que suponho exatas pela forma com que as apresentou – construções, canais, muros, cidades, templos etc.

Todas as vezes que menciono o assunto, em círculos de supostos intelectuais, céticos indagam, em tom irônico, com a intenção deliberada de me depreciar por me entenderem ingenuamente crédulo: “Se a Atlântida realmente existiu, e afundou no oceano, conforme o relato de Platão, por que não há referências a propósito feitas por nenhum historiador?” Ora, ora, ora. Ingênuos, posto que incrédulos (e no meu entender, néscios) são os que fazem esse questionamento.

A falta de registros históricos a propósito é explicável e até com facilidade. O suposto continente perdido – na verdade um conjunto de ilhas, no Oceano Atlântico, logo à frente do Estreito de Gibraltar – teria submergido por volta do ano de 9.500 AC. Na ocasião, não havia sido inventado, sequer, o alfabeto entre os outros povos, em plena era neolítica. Não havia, portanto, nem a escrita. Por conseqüência, não poderia haver registros escritos. Talvez – e supõe-se que sim – os atlântidas (caso tenham existido e acho que existiram) os tivessem. Todavia, só eles. E se tiveram essas crônicas históricas, elas desapareceram, junto com eles, na megacatástrofe, que pode (por que não?) ter sido, até um desastre nuclear, pela forma que teria ocorrido, o que se depreende da narrativa de Platão.

É rematada tolice fiar-se na História, da forma que nos é apresentada hoje, acreditando na sua exatidão. Muita coisa interpretada, meramente, como conjunto de lendas e de mitos, pode não o ser. Em contrapartida, muita coisa que passa por ser relato de acontecimentos talvez não passe de invenção ou de má interpretação de narrativas de terceiros. O que é tido como lendário ou mítico pode se tratar da história verídica, de civilizações antiqüíssimas, em estado avançado de progresso, mas que não deixaram vestígios quando desapareceram (nem sobre como e porque desapareceram), a não ser esses relatos, reitero, interpretados afoitamente como fictícios ou como frutos de superstição. O assunto é muito amplo e já foi tratado por inúmeros escritores que, a despeito de apresentarem evidências para corroborar suas teses, não são levados a sério. Com base no quê se os desacredita? No ceticismo burro e arrogante, pura e simplesmente? Entendo que sim.

O novelista espanhol, Fernando Sanchez Dragó, observa a propósito de indivíduos superiormente dotados, em termos mentais, que poderiam esclarecer muitos mistérios, caso não temessem ser ridicularizados: "...Há uma determinada classe de seres humanos que são portadores da chama, por assim dizer, que formam uma confraria universal acima das idéias, acima das fronteiras; pessoas que, sem se conhecerem se reconhecem quando se vêem (eu creio que passei a fazer parte dessa conspiração, dessa confraria da clandestinidade, chame-a como queira), e são os que se salvarão, os que estão preparados para viver, são os Noés, por assim dizer, que levam toda sua vida construindo uma arca e essas pessoas são convocadas a erigir um novo mundo". Que tal, no entanto, se aproveitassem o que já está feito e tentassem, mas sinceramente e com todo o empenho, mudar o coração dos homens, para que a catástrofe, que parece se desenhar e se torna cada vez mais provável, não sobrevenha?!


* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk

Um comentário:

  1. Pode ser uma mera elucubração, mas ficou verossímil pela argumentação e provocação afiada.

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