terça-feira, 22 de junho de 2010




Sobre Saramago

* Por Evelyne Furtado

Ele tinha um ar circunspecto e talvez por esse motivo eu tenha demorado muito a me entregar à sua escrita aparentemente difícil, transferindo à literatura de José Saramago o sentimento que sentia ao vê-lo em entrevistas. Seus parágrafos intermináveis me inibiam e eu não conseguia dar continuidade à leitura.



Não sei quantas vezes tive um livro seu entre as mãos e o devolvi às estantes das livrarias, até que em um quarto de hotel em Buenos Aires, tive meu primeiro encontro com a genialidade do escritor português em “As Intermitências da Morte”.

Rendi-me ali, mas a conquista se deu com a leitura de “Ensaio Sobre a Cegueira”, onde o escritor apresenta a esperança em meio ao horror, através da personagem A Mulher do Médico.

Nesse romance sombra e luz revezam-se no pano de fundo da cegueira branca e o gênio revela a crença na humanidade com traços nitidamente amorosos.Na literatura de Saramago vislumbrei a ternura que ele cuidava para não transparecer em suas aparições públicas e fui tocada por ela.

O mundo lamenta a perda do Prêmio Nobel que ousou na forma de escrever para se fazer entender e o fez maravilhosamente. Aos 87 anos Saramago deixou o mundo por ele pensado e repensado. Não compactuo com muitas de suas idéias, mas respeito suas convicções e realço o que nele me encantou: a magia de fazer literatura séria, ousada.

* Poetisa e cronista de Natal/RN

5 comentários:

  1. Pura magia Evelyne.
    Belo texto.
    Abraços

    ResponderExcluir
  2. De alguém que tem mago até no nome não se poderia esperar outra coisa senão encantamento. Maravilhosa homenagem, Evelyne.

    ResponderExcluir
  3. Bela homenagem a um grande escritor e Prêmio Nobel.
    Abraços

    ResponderExcluir
  4. É tão bom quando vencemos o medo e concretizamos desejos antigos e novos. Assim como parece ter sido o jeito Saramago de ver o mundo, é bom que não nos percamos em verdades alheias. Quando possível, buscaremos nossas verdades (isso existe?, e deixar para trás as cegueiras dos outros. Bonita maneira de nos contar como entrou nesse mundo, Evelyne, e ainda nos desperta vontade de lê-lo. Só conheço trechos.

    ResponderExcluir
  5. Obrigada, Calvino!
    Núbia e Marcelo: Saramago fez com a escrita uma espécie de magia, mesmo.
    Mara: comece a ler. Você vai se encantar também.
    Obrigada e beijos, queridos.

    ResponderExcluir