sábado, 26 de junho de 2010




Ora bolas!

* Por Lêda Selma



Bola? Não, não queria ser, de jeito maneira. Até porque ela é gorda, desengonçada, bochechuda. Nem elegante nem estilosa. Menos ainda, se chamada de bolota; aí, vira bola murcha.


Sem dúvida, a dama dos gramados tem poder, o que a faz sentir-se com a bola toda. Sem modos, dá bola a vinte e dois homens, simultânea e levianamente, e rebola, embola-se com eles na grama, passando de mão em mão, de pé em pé, insinuante, em boleios de volúpia, deixando seus súditos às tontas, ou, como se diz no Rio Grande do Sul, “como bola sem manicla”. E assim, com a bola cheia, age, às vezes, como se não batesse bem da bola.


Verdade seja dita: não é fácil ser bola. A pobre não tem sossego: é bolinada, chutada, pisada, manipulada; ora amada por vários, odiada por uns, desejada por tantos, temida por muitos; ora acarinhada, beijada, cortejada. Tudo isso, claro! deixa-a bolada.


Ah! e os vexames por que já passou em função dos mal-entendidos e do uso inconveniente de seu nome!? “O treinador levou bola nas costas”. Sim, e daí? O que a gordota tem com a maldita traição?! Azar o do traído, ora bolas! De outra vez, alardearam: “Ele comeu a bola”! Isso foi demais, que acinte! Um bolodório daqueles, até que a explicação veio: “O jogador é bom, fez jogadas primorosas!”. Que alívio! Mas não parou por aí; de novo, constrangimento: “O novato entrou com bola e tudo”. Baita indelicadeza! A infeliz merecia mais respeito. Entretanto, logo trataram de explicitar: “O atacante, voraz, driblou o goleiro, e entrou no gol com a bola”. Ufa! E o engraçadinho que piadeou: “Hum... aquele lá, engoliu a bola!”. Para sossego da própria, ele se referia somente a uma bela jogada, bonita exibição do companheiro.


Sustos? Alguns. Foi o grito que anunciou: “Bola ao alto”! Não era de se assombrar? Quem não se apavoraria, imaginando-se assaltado?! Felizmente, tratava-se, apenas, do lançamento da bola entre dois jogadores. Doutra feita, alguém enfatizou: “Bola presa”! Nossa, até a ficha cair, a pobre já se viu algemada. Mas, no rolar da bola, ficou claro: nada mais que simples infração. Agora, susto, susto, ela levou ao ouvir o tom desesperado: “Ai, ai, ai, machuquei as bolas!”. Bem, nesse caso, esclarecimento dispensado. Mas que deu dó, ah! e como deu!


Tudo isso, no entanto, é fichinha perto de certas situações muito piores e que, de uma forma ou de outra, mesmo por tabela, deixam a bola em posição incômoda. Aconteceu quando diversas Excelências, a tevê divulgou, “levaram bola”! Não, não surrupiaram a bola; o tal surrupio foi bolada mesmo, bolada farta, espalhada na cueca, nas meias, na bolsa, na mala; bolada mafiosa, vulgo suborno, ou reforço mensal, conhecidíssimo nosso, nem tão incomum em algumas vertentes políticas, empresariais, judiciárias e policiais. Esses aí, não raro, pisam feio na bola. Alguns mereceram bola preta!


Há também outro tipo de bolada, estilo pancada, que atinge a maioria dos brasileiros, a cada imposto, a cada CPI, a cada sessão extraordinária lá e acolá... É tanta bolação que corro o risco de até trocar as bolas! Deixa pra lá, é tempo de Copa do Mundo e, nela, só cabe euforia, só impera o patriotismo. Bola pra frente, portanto!


A bola da vez, a Jabulani. E, com todo o respeito pelos nordestinos, afinal, sou uma, a dita tem cabeça chata, notaram? Parece troncha, atarracada. Cá pra nós, que jabiraca! Alguém a achou bonita. Eu, hem?! Bom, feia ou bonita, é lépida, e fez muita troça com vários jogadores. Tantas, que os deixou atônitos. Perguntem a Cristiano Ronaldo e aos goleiros. Mesmo assim, de bola em bola, o gol encheu a rede.


A Jabulani, volta e meia, adotou a lei do retorno. Também, pudera: quantas vezes, deixaram a bola quadrada, ora?! Mexida nos brios, vingou-se. E a bola na fogueira, então? Naturalmente, a velocista estressou-se. E, sem paciência, escorraçou seus detratores. Que o digam os franceses e italianos...


Ah! e se eu fizesse um fuxiquinho para a Jabulani, sobre os argentinos?! Um bolaço, hem?!

• Poetisa e cronista, licenciada em Letras Vernáculas, imortal da Academia Goiana de Letras, baiana de Urandi, autora de “Das sendas travessia”,” Erro Médico”, “A dor da gente”,” Pois é filho”!” Fuligens do sonho”,” Migrações das Horas”,” Nem te conto”, “À deriva” e “Hum sei não”,! entre outros.

Um comentário:

  1. Nem imaginava tantas possibilidades de alcunhas para a bola. Vejo que pesquisou e estourou todas as possibilidades, numa erudição digna de nota. E a mais recente jabulani. Impossível não dar bola. Interessante demais!

    No "Casseta e Planeta" eles já disseram sobre a bola, numa outra copa: "redonda, uma circunsferência muito esférica, muito bólica..."

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