O
Vale nazista
* Por
Viegas Fernandes da Costa
Do banheiro azulejado de suásticas em um antigo casarão da Rua Hermann Hering, em Blumenau, à suástica na moderna piscina de uma residência agora revelada, está o nazismo que insiste em se manter contemporâneo,
Então
fotografaram a suástica gravada no fundo da piscina de uma
residência, situada em uma pacata e insuspeita localidade do Vale do
Itajaí? Muitos, ao verem a foto na coluna do Pancho, devem ter dado
de ombros e murmurado “bem, eu já sabia”. Outros foram tomados
pelo espanto, como que se lhes tivessem tirado a venda dos olhos.
“Então ainda temos quem cultue o nazismo por estas bandas?”
— perguntam-se. E a resposta, infelizmente, é sim, e não são
poucos. Alguns, inclusive, lecionando em nossas escolas e defendendo
na sala de aula teses como a inexistência do holocausto judeu e o
caráter humanista da política de Adolf Hitler.
Não
gostaria de me aproveitar do fato para gerar sensacionalismo sobre o
assunto. Particularmente, preocupam-me principalmente aqueles que
levam a suástica na língua e no interior do peito, do que estes que
a afogam em piscinas. Receio, inclusive, que a divulgação deste
tipo de imagem, considerando as particularidades da nossa região,
estimula simpatias muito mais do que condena. Afinal, não é de hoje
que o nazismo conta com apoiadores no Vale do Itajaí, muitos destes
representantes das elites econômicas, políticas e intelectuais da
região.
Há vários estudos sobre a influência e a presença do ideário nazista no Vale. A historiadora Méri Frotscher, no livro Identidades Móveis, explica que em Timbó provavelmente foi fundada a primeira representação do NSDAP (sigla do Partido Nacional-Socialista Alemão, comumente chamado de Partido Nazista) no exterior. Segundo Frotscher, já em 1928 o jornal local Urwaldsbote divulgava uma convocação para que os interessados em participar do NSDAP enviassem seus nomes. Em outro trabalho, publicado na edição especial da Blumenau em Cadernos de 2007, a historiadora cita o informativo do NSDAP de Blumenau intitulado Mitteilungsblatt, publicado entre 1933 e 1934, “que divulgava de forma agressiva os fundamentos do nacional-socialismo alemão, entre eles o antissemitismo”. Aliás, escritórios do NSDAP eram comuns nas regiões de colonização germânica.
Lamentavelmente aquilo que deveria estar apenas nas páginas da história persiste como um tumor em nossa sociedade. Do banheiro azulejado de suásticas em um antigo casarão da Rua Hermann Hering, em Blumenau, à suástica na moderna piscina de uma residência agora revelada, está o nazismo que insiste em se manter contemporâneo, não só na decoração do lar, mas principalmente nos discursos de superioridade e de segregacionismo tão comuns por aqui, e na violência simbólica e física que promovem.
Infelizmente a suástica na piscina é apenas a ponta de um horrível iceberg.
*
Escritor
e historiador.
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